Economia e Negócios
Como o dólar alto impacta no seu dia a dia
A alta do dólar comercial parece não impactar para quem não importa ou exporta produtos. Porém, não é bem assim. Comprar alimentos, bebidas, produtos de limpeza e eletrodomésticos, abastecer o veículo, e até adquirir medicamentos, são algumas das ações que a moeda americana influencia.
Ou seja, não tem como escapar e a expectativa é que o dólar pare de subir depois das eleições do Brasil. Pelo menos, é o que esperam os economistas e outros especialistas que estudam a variação da moeda.
Para se ter uma ideia, no dia 13 de setembro, o dólar fechou em alta de 1,11%, aos R$ 4,1952. Este valor deixou para trás o recorde anterior de R$ 4,1631, que ocorreu no dia 21 de janeiro de 2016.
Insumos e grãos
Um dos principais efeitos da valorização do dólar incide na produção de alimentos. O gerente técnico de insumos da Copercampos, de Campos Novos, Edmilson José Enderle, explica que sementes, fertilizantes e defensivos são alguns dos produtos que aumentam com o dólar elevado.
Ele frisa que, além disso, todo custo de produção está alto, pois a energia elétrica, combustível e mão de obra também estão altos. “Somente a energia elétrica subiu 15% para a indústria no último mês e o frete também subiu. Não temos saída, não sabemos quanto será o custo de produção para esta safra. Dependemos muito também do resultado das eleições.”
Em contrapartida, ele lembra que a venda de grãos para o exterior, como a soja, será valorizada. Mas isso ajuda somente para quem exporta. “Produtores estão optando pela soja por ter estabilidade maior em variações climáticas.”
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lages, Carlos Peron, reforça o impacto na produção dos agricultores. “A expectativa é que depois das eleições, a situação melhore.”
Para o diretor comercial da Cooperplan, Luiz Carlos Uncini, o que se espera, agora, é que o dólar comece a abaixar, mas há quem acreditam que antes disso, um dólar custará até R$ 5. Ele lembra que uma tonelada de trigo era vendida a R$ 650 e hoje chega a R$ 1 mil. “Esses 35% subiram em dois meses, o adubo, que antes custava R$ 75, hoje está R$ 95”, lembra.
Alimentos
O preço do trigo e, consequentemente, tudo que é produzido a partir dele, como pão, bolos, biscoitos e massas, sofrem grande impacto com o dólar alto. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), o Brasil consome 10 milhões de toneladas de trigo por ano, sendo que metade disso é importada. Como a proteína é uma matéria-prima definida no mercado internacional, em dólar, quanto mais a moeda sobe, mais a compra encarece.
Para piorar a situação, grande parte da importação vem da Argentina, que foi afetada por uma grande seca no começo deste ano. Isso diminuiu a quantidade de trigo e aumentou o preço em mais de 50% nos últimos três meses.
Apesar dos alimentos terem sofrido um aumento com a alta do dólar, os empregos do setor, em Lages, não sofreram com o impacto. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Alimentícia de Lages, Vanderlei Machado, afirma que, ao contrário disso, estão ocorrendo contratações. “Isso porque as empresas daqui, em sua grande parte, fazem importação e não exportação.”
Nos supermercados, os consumidores consideram os preços altos. O estudante Igor Romagna, 21 anos, diz que percebeu uma diferença nos valores dos produtos, principalmente, das bolachas. Para o gerente do Supermercado Myatã, Antônio Moreira, o repasse do aumento dos produtos deve vir somente em outubro. “Por enquanto, pelo menos na nossa loja, não sentimos influência da alta do dólar”.
Produtos de limpeza
A moeda americana também impacta nos produtos de limpeza. Além de eletrônicos e eletrodomésticos, pois muitos dos componentes são importados. A dona de casa, Jurema dos Santos, diz que prefere comprar produtos de limpeza de vendedores de rua. Ela adquire em grande quantidade para durar no mínimo três meses. Mesmo assim, não é tudo que encontra com esses vendedores, às vezes, precisa comprar no supermercado. “Pretendo continuar economizando.”
Combustíveis
O aumento da cotação do petróleo no mercado internacional já influencia o valor dos combustíveis. Além disso, a alta do dólar impacta o preço. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o preço do combustível, teve crescimento de 24,4% no segundo trimestre de 2018 em relação ao primeiro trimestre, esta alta foi influenciada pelo aumento de 11% no preço internacional do petróleo no período.
O advogado do Sindicato dos Postos de Combustíveis de Santa Catarina, Ciro Franco, afirma que somente neste mês, o combustível na refinaria subiu 6%. “Não tem muito o que fazer, subiu o dólar, sobe o valor do barril do petróleo, aumenta o combustível. É uma política da Petrobras”. Ele conta que os postos têm segurado o aumento e repassado ao consumidor a cada 15 dias mais ou menos.
Remédios
A valorização do dólar também pode aumentar os preços dos medicamentos, pois grande parte deles é importada ou produzida no país com componentes vindos do exterior. O consumidor pode demorar para sentir o efeito da alta da moeda, caso o estoque de algumas farmácias adie a compra de novos produtos e, consequentemente o repasse do aumento.
Fatores que influenciam a cotação
Quando há mais dólares, a influência pode ser a redução da cotação. Entretanto, outros fatores também afetam o valor da moeda americana, como os cenários econômicos externo e interno.
Atualmente, as incertezas eleitorais têm influenciado a cotação internamente e, no cenário externo, a crise comercial entre Estados Unidos e a China e o aumento dos juros americanos, atraindo capital para aquele país, também afetam a cotação da moeda no Brasil. Em agosto, a moeda norte-americana fechou com alta de 8,45% com relação ao real.
O dólar acumula, no ano, alta de 22,86%. No dia 31 de agosto, chegou a R$ 4,072 para venda, com queda de 1,78% depois de atingir, nos dias anteriores, o segundo maior patamar do Plano Real, cotada a quase R$ 4,15.
As intervenções do Banco Central (BC) também geram efeitos na cotação da moeda. O BC atua para conter fortes oscilações e oferecer proteção cambial às empresas. Em agosto, o BC fez rolagem (renovação) de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) e ofertou novos contratos desse tipo.
Histórico da moeda nos últimos 5 anos
2/1/2014 | R$ 2,390 |
2/1/2015 | R$ 2,691 |
1/1/2016 | R$ 3,956 |
2/1/2017 | R$ 3,286 |
1/1/2018 | R$ 3,314 |
21/9/2018 | R$ 4,035 |
Fonte: Agência Brasil