Economia e Negócios
Como foi o surgimento do Real na vida do brasileiro
Ninguém tinha noção do preço das mercadorias e quanto que seus salários valiam. É assim que o gerente comercial da Loja Favorita, Clóvis Furtado dos Santos, lembra da época que antecedeu a implantação do Plano Real, há 25 anos. A moeda foi implantada pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso, e é a oficial até hoje.
Quando os consumidores iam comprar algo, dificilmente encontravam o preço. Como o valor mudava muito rápido, às vezes, mais do que uma vez por dia, não eram colocados os valores das mercadorias, na loja de roupas e calçados que Santos trabalha e em praticamente todos os estabelecimentos.
“Não sabíamos quanto que valiam as coisas. Com o plano, a moeda estabilizou e a inflação ficou controlada. As empresas podiam comprar tudo com o valor real, porque até então, todos jogavam índices para aumentar os preços, sem nenhum tipo de base”, conta o gerente comercial.
Outro fator que mudou com a implantação do Real, foi em relação ao salário. A inflação subia com mais frequência do que os reajustes salariais. “Era dado um aumento, chamado gatilho, mas ele nunca alcançava a inflação. As pessoas ganhavam cada vez menos e nunca sabiam o que daria para comprar com seu dinheiro. Surgiu o costume de fazer rancho no supermercado”.
Em contrapartida, enquanto uns consumiam cada vez menos, impactando fortemente os estabelecimentos comerciais, quem tinha dinheiro para investir, ficava cada vez mais rico. “O retorno era muito maior, se investisse um dinheiro em um negócio, recuperava bem ligeiro e lucrava rápido. Com a implantação do Real isso mudou. Aí foi preciso planejar e trabalhar muito para lucrar”.
Mudança de rotina
Dormia com um preço e acordava com outro. Quem tinha dinheiro para fazer estoque, lucrava. Assim que o comerciante Tadeu Zanotto, da Mercearia Zanotto, localizada no Bairro Vila Nova, lembra da rotina antes da implantação do Real.
“A gente não arrumava preço nas mercadorias, somente nas prateleiras. E, naquela época, não tinha cartão de crédito, então as pessoas compravam e a gente anotava em uma caderneta os produtos e não os valores, porque mudava todo dia o preço das coisas”, explica.
Ele lembra que os salários das pessoas valiam cada vez menos, porque os reajustes não acompanhavam a inflação. “O aumento do salário mínimo é usado para o gás ou outro produto, que aumenta sempre. Com isso, as pessoas consomem cada vez menos. Essa situação, não mudou nem com o Plano Real”.
Outra mudança percebida pelo comerciante é que antes do Real, ele conta que havia um bom prazo para pagar as mercadorias para os fornecedores, hoje é dado no máximo 28 dias para pagar.
Outra mudança na rotina, é que hoje não há necessidade de se fazer estoque de produtos, já que os valores não alteram muito em um período pequeno de tempo. Analisando todos os aspectos, para ele, o Plano Real ajudou mais o consumidor, do que os comerciantes.
Bancário lembra que transição foi tranquila
O ex-bancário, Wilson Camargo, lembra que não houve muita mudança nas agências bancárias com a implantação do Plano Real. Na época, ele trabalhava no banco Bamerindus, hoje extinto. Camargo recorda que as pessoas estavam com medo, pois na época do presidente Fernando Collor, o dinheiro das poupanças foi bloqueado.
O Real foi implantado em três etapas. A primeira ação foi os cortes no orçamento e o ajuste das contas públicas. Foi feito um corte de três zeros no cruzeiro, mudando o nome para cruzeiro real. Depois foi implantada a Unidade Real de Valor (URV), uma espécie de moeda de troca, que era usada somente para fazer as conversões nos valores das mercadorias. Sua variação era atrelada ao dólar americano.
Camargo lembra que se convertia a moeda Cruzeiro Real para URV. “Como a mudança da moeda foi gradual, o valor maior do Real em relação ao Cruzeiro, não foi tão impactante para as pessoas”. Cada URV valia um dólar americano, que equivalia na época, CR$ 2.750,00 cruzeiros reais, que passou a valer R$ 1,00.