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#CLentrevista Bernadete Aparecida Casa Liston, da Secretaria da Mulher
Bernadete Aparecida Casa Liston é diretora de Articulação de Políticas Públicas da Secretaria da Mulher de Lages
Correio Lageano: A Secretaria da Mulher tem realizado um importante trabalho no que se refere às políticas públicas para as mulheres. Como é esse trabalho?
Bernadete Aparecida Casa Liston: A Secretaria foi criada em março de 2017, e proposta, justamente, pelos índices que Lages apresentava em relação à violência contra a mulher. Iniciamos o trabalho com um planejamento, e não sabíamos como as coisas iam acontecer. Pretendiamos começar com trabalho preventivo e educativo, indo às escolas conversar com crianças e jovens. Temos isso no nosso planejamento, só que a equipe é pequena e, infelizmente, estamos praticamente com toda a equipe voltada para combater a violência. Implantamos um serviço de referência para atendimento a mulheres em situação de violência. A demanda é muito grande e a espontânea foi uma surpresa, pois achávamos que teríamos de ir até a delegacia para conhecer os números, e não foi necessário. As mulheres estão nos procurando, o fato de ter um local de referência, que não seja ainda a denúncia na polícia, está levando mulheres à secretaria. Fazemos a acolhida, encaminhamos e, na medida do possível, nos propomos a atender toda a família, inclusive o agressor. Temos contactado os homens que estão vivenciando essa situação. E é um trabalho gratificante que pretendemos expandir.
A secretaria atende um número expressivo de mulheres, a maioria vítima de violência. Quais o tipos de violência mais comuns?
As idades das mulheres variam bastante, desde adolescentes, que já convivem maritalmente, até idosas. Não é apenas a violência da relação marido e mulher, temos situações envolvendo mães e filhos, e avós e netos com a violência patrimonial. São vários tipos de violência, psicológica, moral, patrimonial e, principalmente, a física.
Há mulheres em Lages que correm risco de morte por conta de ameaças e violência de companheiros?
Sim. Temos situações graves e orientamos que tenham um lugar seguro para ficar até a situação se resolver. Temos a Casa de Apoio e, nessas situações mais graves, nas quais existe o risco de morte, a mulher é acolhida com os filhos de até 18 anos. Durante esse período, de março de 2017 até agora, com a Secretaria da Mulher, sempre tivemos mulheres acolhidas. A casa existe há mais tempo, antes era administrada pela Secretaria de Assistência Social. Só em 2018, tivemos 40 mulheres em acolhimento, de janeiro até a presente data. Ano passado foram 22 mulheres.
Você acredita que as mulheres estão se sentindo seguras para procurar ajuda na Secretaria da Mulher?
Acreditamos que é isso. Diariamente, recebemos casos novos. Temos em torno de 160 famílias em acompanhamento, e três mulheres na Casa de Apoio. Tivemos alguns casos que não precisamos fazer o acompanhamento, porque a mulher não quis, bastou uma orientação, ou porque as situações que se resolveram.
A Secretaria da Mulher conta com parcerias?
Trabalhamos muito em parceria. Não fazemos nada sozinhas. Na questão da violência doméstica, temos uma articulação muito boa com o Ministério Público, 2ª Vara Criminal, que trata dos casos de violência doméstica; a Dpcami (Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso) da Polícia Civil; a Polícia Militar com a Rede Catarina e a Uniplac, através do Gecal, que é o grupo Gênero, Educação e Cidadania na América Latina. Estamos em um projeto piloto, junto a esses parceiros, relacionado à Justiça Restaurativa. Participamos de uma formação para realização de círculos de construção de paz. Iniciamos um projeto piloto com casais que vivenciaram violência doméstica e estão dispostos a um método diferente e alternativo de resolução de conflitos. A Justiça Restaurativa pode trabalhar com situações mais complexas também, e se propõe a não criminalização, mas trabalhar em paralelo e propiciar um espaço de diálogos entre as partes, para que possam ter diálogo. Começamos com situações mais simples porque estamos em processo de aprendizado, testando o que aprendemos e aplicando. A violência doméstica, com a Justiça Restaurativa, há poucas experiências no Brasil, mas é possível e acreditamos nisso. Quando falei das parcerias, não citei as secretarias, mas temos uma articulação muito grande com a Saúde, especialmente os programas que atendem à saúde mental, porque é necessário o apoio com psicoterapia. A Educação, porque muitas vezes a mulher muda de endereço e precisa de vagas em creches e escolas. Também a Assistência Social e Habitação. Dependemos de muita articulação para poder atender.