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A farda se aposenta, o bombeiro não

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Foto: Bega Godóy

O coronel Edson Tadeu Steinck de Sousa, de 58 anos, entrou para a vida militar em 1983. Foram 36 anos, seis meses e 20 dias prestando serviços à comunidade, a maioria como bombeiro. Neste período atuou seis anos como tenente da Polícia Militar.

O lageano, único homem de uma família de cinco filhos, teve passagem por Florianópolis, Curitibanos, São Joaquim e Otacílio Costa. Disse que deixa o comando da 2ª Região de Bombeiro Militar com o sentimento de dever cumprido.

A solenidade de passagem de comando aconteceu na quinta-feira (30) na Câmara de Vereadores. Assume o seu lugar o coronel BM Ariovaldo da Silva Pacheco.

Tadeu estava a frente da 2ª Região de Bombeiro Militar desde julho de 2018, com circunscrição de 87 municípios e 36 organizações de Bombeiros Militares (OBM), totalizando um efetivo de 534 homens. É o maior batalhão de Santa Catarina, em relação a extensão territorial.

Durante sua vida militar ele conquistou todas as promoções possíveis e foi condecorado com medalhas de bronze, prata e ouro. Atualmente é coronel, com um par de seis estrelas douradas.

Nas mais de três décadas de prestação de serviço, Tadeu estava nas equipes que atenderam acidentes com as aeronaves, no Bairro Pisani, onde morreram 13 pessoas, e durante a apresentação da Esquadrilha da Fumaça.

Na PM, trabalhou no acidente cuja explosão envolveu a loja de armas Caça e Pesca no Centro de Lages, incêndio na tradicional lanchonete Lanchick, também no Centro, no clube Princesa e na igreja Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Coral.

Antes de se aposentar, Tadeu pôde acompanhar a carreira de seu filho, o soldado Marcelo Bornhausen de Sousa, de 26 anos. Há seis anos nos Bombeiros, o rapaz já foi aprovado no Curso de Formação de Oficiais (CFO) e passa a ser cadete da Polícia Militar. A duas filhas, Júlia, de 19 anos, estuda música na Uniplac; e Bruna, de 22 anos, Medicina Veterinária na Udesc.

O militar conversou com nossa reportagem e já em tom de saudade, sem esconder a emoção, confessou ter prazer em dedicar tanto tempo à vida militar. Admitiu que a farda estará  aposentada, mas a função de bombeiro permanecerá com ele. “Mesmo a paisana vou prestar socorro, esteja onde estiver e a quem precisar e for”, resumiu. 

Além disso ele quer pôr em prática uma escolinha de futebol gratuita para alunos carentes, . Sua intenção é contemplar todos os bairros, o mais tardar em janeiro de 2020.

“Combati um bom combate  Fiz minha parte. Cada ocorrência é diferente. Fiz o que pude em 36 anos e ficasse mais um ou dois anos não iria mudar muito”

Correio Lageano: Como era o trabalho do Bombeiro antigamente”

Coronel Edson Tadeu Steinck de Sousa: Mudou muita coisa. O caminhão não tinha cabine dupla. A gente ia em cima,  com chuva ou sol e eram no máximo cinco militares no atendimento das ocorrências. Depois veio a tecnologia, (notebook, celular e internet e facilitou. Foi mudança muito acentuada. A cabine virou dupla, os motores ficaram mais potentes, equipamentos foram modernizados, entre outro benefícios.

Qual sua ideia de Bombeiro eficiente?

Acho que precisa de mais treinamento. Falo isso em todo o Estado, porque apesar da tecnologia ser um suporte importante, não dá para depender somente dela. Hoje tem máquina que você aperta o botão e praticamente apaga o fogo. Por exemplo se formos usar um drone para localizar a pessoa e o sinal do equipamento se perder teremos que fazer isso por terra caminhando, correndo passando por qualquer tipo de terreno. Em caso de adversidades como vendaval, granizo, vento e enchente, se não tivermos em bom condicionamento técnico e tático podemos comprometer o salvamento. Ninguém está completamente preparado. Acabou a luz? Teu plano pifou, ai onde entra a técnica e o preparo.

O que marcou a sua carreira?

Salvamentos, principalmente. Ver a pessoa agradecida, a criança que engasgou e conseguimos desafogá-la. Mas tem as vítimas que perdemos. Lembro de uma criança que tinha engasgado com leite.  A equipe estava levando ela para o hospital, vi a cabecinha loirinha parecida com a do meu filho. Tentei reanimá-la por diversa vezes. O pessoal dizia não adianta, ela se foi. Eu tentando, tentando e não consegui. A entreguei para o médico sem vida. 

Com o tempo o Bombeiro assumiu várias funções, às vezes é professor, psicólogo, pediatra  Como evitar o estresse, quando diariamente estão envolvidos em diferentes cenários e contextos?

Fomos acumulando funções ao longo do tempo. Defendo que o militar faça rodízio das funções entre as escalas. Um dia no pré-hospitalar, outro dia no salvamento, outro no combate à incêndio.

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