Geral

A cada dia, cinco novas mulheres pedem proteção

Published

em

“A mulher é coisificada e o homem possui a sensação de posse, que a mulher deve servi-lo”, Patricia Zimmermann, coordenadora das delegacias da Mulher, Criança e Idoso de SC - Foto: Alesc/ Divulgação

Há quem diga que “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Entretanto, esse ditado tem se tornado obsoleto, já que na maioria das vezes, a briga termina com o assassinato de uma mulher. Em Santa Catarina, 25 mulheres morreram vítimas de feminicídio nos meses de janeiro a agosto deste ano. Em Lages, foram duas tentativas – a última na manhã de ontem – em outra ocorrência, o marido enterrou a esposa no quintal de casa.

Em 2017, no mesmo período, foram 29 casos; e em 2016, 37. Em relação aos anos anteriores, houve queda não muito expressiva, mas que pode mostrar que os trabalhos de combate a essas violências têm sido eficientes.

No caso de quinta-feira (4), a vítima havia registrado boletim de ocorrência e possuía medida protetiva, que estava vencida. A advogada da Secretaria da Mulher e Serviços Públicos, Fabiana Ramlov de Araújo, explica que todas as medidas registradas na cidade são passadas para o órgão, que acompanha os casos mais graves e aqueles que as mulheres pedem auxílio.

O fluxo de chegada de medidas protetivas é grande. São cerca de 5 por dia, um número elevado para uma cidade do tamanho de Lages. Se as mulheres não representarem o caso, o documento deixa de valer depois de seis meses. O trabalho da secretaria se resume em acompanhar vítimas e agressores, além de realizar o acolhimento quando necessário. Além disso, em situações em que as ameaças são recorrentes, é solicitada a prisão preventiva do agressor. “Muitas vezes eles só param quando são presos e alguns são soltos, mas continuam com tornozeleiras eletrônicas”, explica Fabiana.

O que reflete na recorrência dos casos de agressão, segundo a advogada, é que muitas das vítimas acabam retomando os relacionamentos. Isso acontece pela falta de apoio, principalmente, o familiar e pelo fato delas serem dependentes financeiramente dos companheiros.

A coordenadora das Delegacias da Criança, Mulher e Idoso de Santa Catarina, Patrícia Zimmermann, explica que as mulheres são orientadas a notarem os sinais de alerta, que podem levar ao final estágio da violência: o homicídio. Entre os fatores estão as agressões físicas, chantagens, ofensas e controle sobre a mulher. Nesses casos, é preciso ser realizado boletim de ocorrência. Assim, a polícia tem mais controle sobre o caso.

Patrícia acrescenta que isso acontece porque é cultural o sentimento de posse do homem sobre a mulher. Já, anteriormente, as mulheres eram educadas para servir os homens e cuidar de seus lares. Com a mudança da sociedade, o pensamento machista e patriarcal permaneceu e a visão de tornar a mulher um objeto, permanece nos dias atuais.

Estudo do caso

O policial federal e mestre em Ciências Criminais, Cezar Augusto Galvão Brandt, realizou a sua pesquisa de tese de doutorado sobre a violência contra a mulher em Lages. No estudo, realizado em 2016, analisou que a maioria dos agressores tem baixa escolaridade, as vítimas não exerciam atividades econômicas e os agressores são companheiros ou ex parceiros.

Cezar ressalta que tudo isso está ligado com a cultura patriarcal da nossa região que, em relação com a falta de uma educação formal de qualidade, as pessoas acabam se educando através da cultura popular e características de séculos passados. Como é o caso dos resquícios da cultura de fazenda. “O meio social dos grandes latifundiários, permeado pelos laços do patriarcado, trouxeram essa herança cultural”, ressalta.

“A carência da educação faz com esses dados continuem crescentes e o combate dessas violências está diretamente ligado à educação,” acrescenta Cezar. Só assim, cenas como a presenciada no transporte público lageano, ontem, podem deixar de ser recorrentes.

Números da violência

2.326 

casos de estupro foram registrados em SC até julho de 2018

55

dos estupros ocorreram em Lages

11

deles aconteceram em março

488

ameaças foram registradas em Lages

clique para comentar

Deixe uma resposta