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A bondade que gera esperança

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Foto: Marcela Ramos

Por mais que o mundo demonstre que não existe mais pessoas com o coração bom, ainda há aqueles que sabem fazer o bem sem olhar a quem. Aqueles que mudam as perspectivas de pessoas, que produzem a alegria com o trabalho, que usam aquilo que mais lhe fez sofrer para ajudar outras pessoas. É um projeto de corrente de solidariedade, chamada Laços de Vida, onde mais de 30 pessoas produzem materiais de lã, cremes, lenços, almofadas e perucas para doar àqueles que passam por tratamento de câncer.

O projeto, coordenado por Ana Cláudia Bett Hinckel, tem único objetivo: sensibilizar crianças e adolescentes a terem um olhar solidário na doença e na velhice. Isso porque Ana já esteve nesta situação, quando passou pelo câncer. Ela relata que, muitas vezes, já precisou de ajuda das amigas, pois seu corpo estava muito fraco para poder se movimentar, ou até mesmo se alimentar. “Comparei com a velhice, onde passamos a ser dependentes de outras pessoas. O projeto começou ajudando pacientes oncológicos,  mulheres principalmente”, comenta. 

Além de lenços e perucas, Ana, com a ajuda da equipe, faz doações de máscaras de tecido para quando o paciente está com a imunidade baixa; chá de camomila para fazer as compressas no seio, pois ajuda na cicatrização; almofadas coração, que servem para usar após a cirurgia de retirada total da mama; e prótese de mama. “Muitas  mulheres preferem usar perucas, até para esconder um pouco a doença e ajuda bastante na autoestima. Quando entrego uma peruca, uma prótese de mama ou lenços, o sorriso e abraço que recebo são os meus melhores presentes”, conclui. 

A Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), do Hospital Tereza Ramos, em Lages, a qual é uma instituição 100% Sistema Único de Saúde, recebe as doações de várias instituições, como Rede Feminina Câncer, Rotary Clube de Lages, Associação dos Escoteiros e o Laços de Vida. Além de receberem os materiais, os pacientes relatam que são muito bem atendidos por toda a equipe do hospital. 

A enfermeira especialista em oncologia, Adriana Cristiane Neto, comenta que, além de toda uma equipe que envolve enfermeiros, terepauta ocupacional, piscólogas, médicos, nutricionistas, farmaceuticas e tecnicas em enfermagem, existem essas doações, que fazem toda a diferença. “Depois da quimioterapia, nós levamos elas para escolherem um lenço ou uma peruca. Elas saem daqui melhor e mais leve. Essas doações fazem com que elas se sintam acolhidas e cuidadas.”

A Unacon atende, em média, 25 pessoas em tratamento de câncer por dia, e, segundo Adriana, é preciso cuidar de cada um, com muito amor. “O paciente com câncer deve ser cuidado com muito amor, eles precisam sentir esse carinho. Nossa equipe é muito acolhedora e demonstramos todo esse cuidado”, conclui. 

Equipe Unacon – Foto: Marcela Ramos

Marlene Kley Furtado produz perucas 

Marlene Kley Furtado, de 63 anos, trabalha com cabelos há mais de 36 anos. Com seu próprio salão no Bairro Universitário, em Lages, ela recebe pedido de várias mulheres, não apenas da cidade, mas também da região. Marlene comenta que é uma sensação de alegria fazer isso pelas pessoas. “Recebo ligações de mulheres que me pedem perucas. É uma satisfação muito grande em ver as pessoas melhores e se sentindo bem. O cabelo eleva a autoestima de uma pessoa, traz de volta a essência.”

Com a ajuda de sua filha, Lara Barroso, 22 anos, faz as perucas em suas horas de folga. Até o fim do ano ela pretende doar dez. “Já tenho sete para doar aqui, quero doar umas dez até o fim do ano.  A Lara me ajuda na finalização da Peruca”. Marlene já passou por um caso de câncer em sua família, e sabe o quanto o cabelo é importante na vida das pessoas, por isso, não cobra pelo seu trabalho. “Eu sei que existem pessoas que não tem condições de pagar. Eu não cobro porque faço isso de coração.” 

Marlene Kley Furtado – Foto: Marcela Ramos

Mara Gracinda Custódio produz perucas

Atendendo oito hospitais, sete instituições, 47 unidades das redes femininas, Maria Gracinda Custódio é de Joinville, e produz perucas para as pacientes que passam pelo tratamento de câncer. Entre elas, as lageanas. Fazendo parte também do projeto Laços de Vida, Mara entrega mensalmente 100 perucas em todas as unidades que têm parceria. “Sou uma voluntária com o coração, porque a necessidade  das paciente tem pressa.” 

Mara comenta que é gratificante ajudar Lages, se orgulha do banco de perucas que a cidade possuí, por meio do projeto Laços de Vida.  “Todas do projeto em Lages colaboram em se doar ao próximo. É inexplicável. O acolhimento que Ana Cláudia dá aos pacientes é muito lindo.” 

Maria Gracinda – Foto: Divulgação

Lourdes Barbosa produz material com lã

Com 58 anos, a advogada Loudes Barbosa, juntamente com mais 16 mães do Clube de Mães do Colégio Santa Rosa, produzem peruquinhas com tranças, toucas, sapatinhos, lenços, gorros e meias para doar às pessoas que estão em tratamento de câncer. “Fazemos isso por uma boa causa, é gratificante e nos deixar feliz em saber que fazemos o bem a alguém.” 

Há quatro anos fazendo parte do projeto Laços de Vida, o clube vive de doações para transformar o material no produto final. “O Santa Rosa só nos doa a sala. E para conseguir os materiais fazemos bingo, janta, vendemos doces nas festinhas da escola, temos patrocinadores também.”

Lourdes Barbosa produz material com lã – Foto: Divulgação

Josemara de Jesus Xavier, paciente da UnaconJosema de Jesus Xavier, de 50 anos, faz tratamento na Unacon, após ser diagnosticado com um tumor no cérebro. Passou por uma cirurgia, a qual lhe deixou com sequelas na visão. O diagnóstico, que veio em agosto deste ano, não abalou seu sorriso. “Estava com a minha vida normal, mas comecei a sentir fortes dores de cabeça, e não conseguia dormir; então, recorri aos médicos.” 

Após passar por tratamentos de quimioterapia e radioterapia, perdeu seus cabelos e, durante o inverno, o que lhe protegeu do frio foi uma touca que recebeu da Unacon. “Durante o inverno, eu peguei uma toquinha que o pessoal produz e traz aqui para nós. Usei muito esta touca durante o inverno.”

Dona Josemara relata que, hoje, se sente bem e agradece o trabalho das enfermeiras. “Elas se preocupam muito com o bem-estar das pessoas. As enfermeiras nos tratam muito bem, são muito educadas e amigas, estão de parabéns.” 

Josemara de Jesus Xavier – Foto Marcela Ramos

Maria do Carmo Tigre, paciente da Unacon

Aos 69 anos, Maria do Carmo Tigre luta contra o câncer, há nove anos. Tudo começou com um câncer de mama, o qual Maria teve de se sujeitar a cirurgia e tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Três anos depois, após tratar o câncer, um cansaço começou a incomodar, juntamente com um chiado no pulmão e uma tosse. Maria novamente recebe o diagnóstico de câncer, mas, desta vez, no pulmão. Outra cirurgia foi realizada e, novamente, os tratamentos de ‘quimio e radio’ teve de enfrentar. Dez meses após eliminar o tumor no pulmão, Maria descobre que um novo tumor havia surgido entre sua coluna e seu pulmão. “Sempre me mantive forte, mas teve um dia que eu desabei em lágrimas. Foi aquele choro que vem da alma, mas Deus me deu força, enxuguei minhas lágrimas, me recompus e segui em frente.”

O medo de Maria não era do tumor, mas sim da dor, por ter de passar por outra cirurgia. Não foi preciso. Após um tratamento de radioterapia agressiva, o tumor foi queimado. 

É difícil ouvir de um médico que os resultados dos exames não foram como o esperado, mas se manteve firme ao receber o último diagnóstico, o qual 24 pequenos tumores foram localizados em seu pulmão esquerdo. “Eu já estava preparada espiritualmente para receber essa notícia, eu sei que Deus não vai me abandonar. Eu sempre digo aos meus três filhos que não é de câncer que a mãe vai morrer, porque Deus me dá força.”

Com um sorriso no rosto, mas com um histórico que ninguém imagina, relata que entre suas idas e vindas à Unacon, sempre foi bem atendida por toda a equipe do hospital e que recebe os produtos doados. “As enfermeiras aqui são uns amores, nos tratam muito bem. Eu utilizo a almofadinha que nos doam aqui, para apoiar a cabeça para dormir, e já utilizei um gorro branco no inverno.”

Agora, o tratamento de Maria, é via oral, um comprimido quimioterápico, que deve ser tomado todos os dias. Além disso, ela precisa fazer uma vacina a cada 21 dias, no hospital.  “Você não pode dar moral para o problema, se não ele toma conta de você. Eu continuo com a minha vida, limpo a minha casa e sigo em frente.” 

Maria do Carmo Tigre – Foto: Marcela Ramos

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