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Quando a música transforma vidas
Por muito tempo, Jessé Sicsú de França, 31 anos, manteve o sonho de ser músico guardado no peito e não imaginava que hoje seria percussionista e timpanista, e estaria se apresentando pelo Brasil.
Ele veio de Manaus para se apresentar na Orquestra Sinfônica, sábado, às 20 horas, no Teatro Marajoara, durante a sétima edição do Festival Internacional Música na Serra. O evento tem atrações até neste sábado e todas são gratuitas.
No passado, mesmo sabendo que gostava de música, preferiu seguir a carreira jurídica e se tornar advogado. A escolha foi por conta do preconceito que viu sua irmã passar ao ser musicista. Trabalhou oito anos como advogado, até que um dia, um cliente entrou no escritório de advocacia ouvindo uma música barroca.
O som despertou seu sonho. Ele saiu de Porto Alegre e foi para Manaus, de onde é natural e anunciou aos pais: “Obrigado por terem investido cinco anos na minha carreira jurídica, mas eu quero ser músico”.
A partir disso, a vida dele mudou. Quando escolheu a carreira jurídica, conta que ganhou dinheiro, mas não se sentia bem. “A arte toca em quem é artista, uma hora ela vai te chamar”. Ele sentia que aos 26 anos, sua carreira de músico poderia ser difícil, pois via muitos que já começaram a tocar na infância e adolescência.
Foi para São Paulo para tentar passar em uma prova e entrar na Escola Municipal de São Paulo Tom Jobim. Não conseguiu a aprovação, mas aproveitou a oportunidade para entrar em contato com professores renomados da área. Começou a ter aulas particulares até por Skype, enquanto não conseguia entrar universidade pública.
Em 2016, ingressou na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e com três meses de estudo, quase não conseguiu tocar no Festival de Música de Londrina, em Curitiba por ter pouca experiência. Lembra que estudou muito o repertório e conquistou a estreia de sua carreira no evento. No mesmo ano que começou a faculdade, conseguiu ser aprovado como timpanista da Orquestra Experimental Amazonas Filarmônica.
Coragem para enfrentar os desafios
A carreira jurídica deixou muito aprendizado. A timidez ficou para trás e percebe que hoje, ao conhecer seus direitos, fica difícil ser enganado. O músico analisa sua história de vida com orgulho, porque percebe que deixou o medo do julgamento das pessoas de lado para se dedicar naquilo que ama.
Casado, às vezes fica duas semanas sem ver a esposa, que o apoia na carreira. “A música é minha vida e sou muito feliz e minha esposa também. Acredito que quando eu tiver mais experiência, vou ter estabilidade em algum lugar e não precisarei viajar tanto”.
Hoje ele conta que é free lancer da Orquestra Experimental Amazonas Filarmônica e toca com frequência nela. Além disso, está quase concluindo a faculdade, é professor de música particular, trabalha no Conservatório de Música de Manaus e nos serviços que surgem. “Trabalho durante o ano e aproveito janeiro e julho para estudar me apresentando em eventos. Manaus é longe de tudo, para sair de lá, a passagem de avião não baixa de R$ 1 mil”.
Sua meta agora é terminar os estudos, continuar aproveitando todas as oportunidades para se apresentar e, no futuro, morar no exterior. “Há muita incerteza na área cultural, o Brasil não respira arte, há muito preconceito. Muitos ainda acham que ser músico é ser vagabundo. Para você ter uma ideia, na Suécia, querem igualar os salários de todos os profissionais, não importa se é advogado, músico ou catador de lixo. Vislumbro trabalhar em Portugal ou outro país”.
Programação
Sexta-feira (26/7)
- 18h10: Concerto acadêmico no Convento Franciscano
- 20 horas: Apresentação do balé infanto-juvenil, classe de canto e coro Música na Serra.
Sábado (27/7)
- 20 horas: Teatro Marajoara – O concerto de encerramento é o ápice do festival, com a Orquestra Sinfônica.