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Pioneiro em Lages, evento empodera pessoas negras
Pela primeira vez, em Lages, se realiza um evento voltado para a população negra com um tema diferenciado. Com o objetivo de fortalecer a autoestima dos negros, através da valorização da beleza étnica e troca de experiências, o Encontro Afro-Brasileiro de Estética e Empreendedorismo, ocorre na Uniplac, desde terça feira (30) e termina na sexta-feira (2) com mesas redondas. Realizado no Centro de Ciências Jurídicas, a partir das 19 horas. O evento também visa divulgar profissionais e produtos, que saibam trabalhar com penteados e maquiagens para negros.
Quarta (31) de tarde, o encontro promoveu uma tarde da beleza. Mulheres negras tiveram oportunidade de valorizar seus cabelos afro, por meio das mãos de cabeleireiras especialistas, que fizeram transição capilar, tranças, cachos e outros penteados.
Não é somente o visual das mulheres que era transformado. Depois da mudança, se notava que elas se sentiam mais bonitas e empoderadas. Muitas ficavam observando os movimentos das cabeleireiras para aprenderem como trabalhar com o cabelo.
Além desse workshop, o evento possui palestras, debates, oficinas e exposições, que trarão a história da cultura africana e afro-brasileira, direitos das pessoas negras e depoimentos de negros que viraram empreendedores.
Uma das coordenadores do evento, Valdirene Vieira, destaca que uma pesquisa do IBGE, declarou que 26% da população de Lages se declara negra. “É importante que os negros sejam reunidos para perceberem que há muitos outros e que todos são capazes. Hoje, sofremos racismo, mas de forma mais velada, através de olhares e atitudes”.
Ela avalia que os negros poderiam ter mais destaque no mercado de trabalho e nas universidades. Mas por conta da falta de oportunidades, muitas vezes, não conseguem o que almejam. “Hoje, não encontramos com facilidade salões de beleza especializados em penteados e maquiagens para negros. Em outras cidades, há locais que ganham muito com isso. Bom frisar que ficar bonita, vai além da aparência… é uma injeção de ânimo na alma, um fortalecimento na autoestima e na personalidade dos negros”.
O objetivo é que o evento, realizado pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), em parceria com o curso de Cosmetologia da Uniplac, o Movimento Negro de Lages, denominado Obatalá e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Lages, ocorra todos os anos e que conquiste cada vez mais voluntários.
Barreiras do racismo foram deixadas para trás
Alto astral, criativa e comunicativa, Elisandra da Silva, 50 anos, hoje é empresária e professora no Senac. Mas até ser cabeleireira, enfrentou muitas barreiras. Lembra, que uma vez, um amigo a indicou para uma vaga de emprego, que estava praticamente garantida para ela. Porém, quando chegou no local, percebeu o olhar diferente do empresário, que disse já ter contratado uma pessoa. Depois, ela soube que uma pessoa foi empregada semanas depois.
Ela conta que seu marido é branco e quando chegam em algum local, às vezes, causam espanto. “Eu já chego estufando o peito e meu marido, não dá bola, adoramos sair juntos. Ele me diz que sou um troféu”.
Elisandra aprendeu desde pequena com seus pais, que ser negro deve ser motivo de orgulho e não de vergonha ou tristeza, sentimentos que podem surgir através do preconceito. Para ela, os negros passaram a sofrer menos preconceito porque se empoderaram, mostrando que a cor da pele não quer dizer nada.
“Somos capazes de trabalhar, estudar e de fazer o que quisermos. Os pais devem mostrar isso para os filhos, assim eles não se reprimem. Percebo que minha personalidade forte, vem hoje dessa força que recebi dos meus pais”.
Apesar de perceber que o racismo diminuiu um pouco, ela analisa que ainda faltam oportunidades de trabalho para os negros. Cita como exemplo, as vagas de atendimento do comércio, que em sua maioria, são ocupadas por pessoas brancas. “Lembro que uma vez trabalhei de recepcionista e uma pessoa me disse: nossa que bonito ver uma pessoa negra na recepção, primeira vez que vejo isso”.