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Pesquisa mostra que muitas mulheres adiam maternidade

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Foto: Susana Küster

Seja qual for a razão que leva uma mulher a adiar a maternidade, o fato é que essa decisão tem crescido entre as brasileiras, segundo levantamento de uma pesquisa denominada Estatísticas do Registro Civil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada recentemente. Os dados revelam que em 2005, 22,5% das mães tinham entre 30 a 39 anos, já em 2015, o percentual saltou para 30,8%. Houve também redução dos registros de filhos de mães mais jovens. As mães, de 15 a 19 anos eram 20,3%, em 2005, e, em 2015, o número baixou para 17%. 

O percentual continua caindo com as mulheres que se tornaram mães entre 20 a 24 anos. Em 2005, 30,9% dos nascimentos eram concentrados nessas mulheres, e, em 2015, o percentual nessa faixa etária caiu para 25,1%. A única faixa etária que se manteve praticamente estável, foi a de 25 a 29 anos. Em 2005, 24,3% das brasileiras tiveram filhos com essa idade e, em 2015, o número aumentou um pouco, foi para 24,5%.

A pesquisa também dividiu o assunto por região. No Norte, o levantamento apontou que as mulheres tiveram filhos mais novas, em comparação com outras regiões do país. Foram registrados 23,3% nascimentos de mães de 15 a 19 anos, e 29,7% foram relativos a mães de 20 a 24 anos. Já os nascimentos relativos a grupo de mulheres com 30 a 34 anos concentraram-se no Sudeste (22,4%) e Sul (22%), bem como na faixa de 35 a 39 anos, com 12,3%, no Sudeste, e 11,7%, no Sul. Segundo o IBGE, o conhecimento das diferenças regionais é importante na elaboração e implantação de políticas públicas.

Registros tardios_ Segundo a pesquisa, embora o percentual de registros de nascimentos tardios (feitos com até três anos de atraso) no Brasil tenha caído de 9,4%, em 2003, para 2,6%, em 2012, os indicadores permanecem altos em alguns estados: Amazonas (12,6%), Amapá (12,6%), Pará (11,9%), Acre (11,6%) e Roraima (11,3%).

O estudo Estatísticas do Registro Civil é resultado da coleta das informações prestadas pelos cartórios de registro civil de pessoas naturais, varas de família, foros ou varas cíveis e os tabelionatos de notas do país.

Fonte: Agência Brasil

Ser mãe, nunca fez parte do seu planejamento

Quando era criança, ela percebeu que não queria ser mãe. Mas, isso não quer dizer que não gosta de criança ou que não adora interagir com elas. A decisão ocorreu de maneira natural, diz ser difícil explicar. O fato de ter crescido em uma família grande de seis irmãos, não fez ela passar alguma necessidade. A liberdade de viajar e de fazer trilhas é um dos motivos apontados. Seu marido a apoia na decisão e a família de ambos não condena a atitude. Porém, devido ao julgamento ainda existente na sociedade sobre o assunto, ela prefere não divulgar seu nome e nem foto.

Quando conheceu seu esposo na faculdade, a opinião sobre ser pais era a mesma, nenhum dos dois almejava ter filhos. Ela achou que com o tempo isso poderia mudar, mas, hoje aos 35 anos, percebe que a decisão continua igual. Como o casal gosta muito de viajar e fazer trilhas, não ter filhos para eles é sinônimo de liberdade. “Hoje percebo que a maioria das mulheres adiam ao máximo a maternidade, por uma questão financeira e também para priorizar a carreira”.

Ela relata não existe mais essa obrigação de ter filhos no casamento e que isso deixa a relação mais forte. “A minha sogra foi viúva muito cedo e teve que criar três filhos sozinha. A vida dela mudou muito, me incentiva a estudar e nos apoia. Minha família também não nos julga. Tanto meus pais, quanto os do meu esposo, já possuem vários netos dos outros filhos”.

O que escuta com frequência é quem cuidará dela e do esposo quando ficarem idosos. Na opinião dela, isso nunca deveria ser motivo para ter filhos. Como faz trabalho voluntário em um asilo, vê muitos idosos com vários filhos, que não recebem nem visita. “Ser feliz é o que mais importa, tendo filhos ou não. Respeito quem decide ser mãe e acho uma dádiva. Quem sabe, futuramente, nós adotamos, mas isso não nos passa pela cabeça”.

Estudiosa analisa o assunto de forma mais ampla

A representação social da maternidade faz com que a mulher que decida não ser mãe seja julgada pela sociedade, segundo a professora, pesquisadora e vice coordenadora do Grupo de Pesquisa em Gênero, Educação e Cidadania na América Latina (Gecal), Jô Antunes. “Dizem que a mulher não será completa até ser mãe, questionam quem cuidará dela quando ficar mais velha…É interessante analisar quando há uma separação de casal. Geralmente, eles ficam com a mãe e isso é considerado normal. Quando a guarda é para o pai, a sociedade diz que a mulher é desnaturada”.

Outro ponto analisado por Jô é quando a mãe, deixa os filhos com alguém ou na creche, e vai trabalhar. “Geralmente, ela sofre preconceito por essa decisão. Se isso acontece com os homens, não há julgamento”.

Conclui que a mulher que decide não ser mãe ou adia a maternidade está fadada a ser julgada pela sociedade. Para Jô, isso não acontecerá mais, só com uma modificação da cultura e leva muito tempo. “Eu acredito muito na educação nesse processo de mudança de mentalidade. É preciso entendermos que essa questão precisa ser vista dentro de um contexto sociocultural e não sob uma ótica de determinação biológica”.

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