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Parte do FGTS é injetado no comércio local
Comprar algo novo – que era desejado há tempos, pagar dívidas que surgiram inesperadamente, quitar parcelas atrasadas, adiantar parcelas futuras, ou até mesmo guardar na poupança. A utilização do dinheiro inesperado, recebido por milhões de trabalhadores com o saque imediato do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), tem sido muito diversa.
A comerciária Rosemeri de Lima Chaves, 49 anos, conseguiu sacar os R$ 500 referentes às contas de FGTS (ativas e inativas), na última sexta-feira (27). O dinheiro, que não estava na sua previsão orçamentária, foi utilizado para adiantar parcelas do carro comprado recentemente. “Antecipei três parcelas, isso é bom porque deixei de pagar muito juro”, comenta.
A vendedora Franciele Goulart, 30 anos, sacou o dinheiro em setembro e pretendia guardar tudo na poupança, para usar caso houvesse algum imprevisto. O que ela não esperava era que um imprevisto surgisse tão rápido. Devido a uma viagem de emergência, ela precisou gastar parte do FGTS recém-sacado. “Usei só um pouco, mas o restante deixei guardado na poupança.”
Colega de empresa de Franciele, Rita de Cássia Lorenzetti Bibow, 31 anos, ainda não teve seu dinheiro liberado para saque, mas já sabe exatamente o que fará com o dinheiro extra. Ela pretende comprar uma nova janela para a sua casa.
“É um dinheiro muito bem-vindo, que eu não estava esperando. Por isso, vou colocar uma janela maior lá em casa, vai ser feita sob medida e vou gastar uns R$ 450”, conta empolgada com o planejamento de substituir a janela de casa.
Mais compras à vista
O saque imediato do FGTS, que desde o início de setembro tem liberado até R$ 500 por conta (ativa ou inativa) para cada trabalhador com carteira assinada, representa um acréscimo na economia do país.
Somente em Santa Catarina, a Caixa Econômica Federal estima que mais de 4,3 milhões de trabalhadores devem sacar o benefício, fazendo circular na economia catarinense algo em torno de R$ 1,8 bilhão. No país, a estimativa é de R$ 39,8 bilhões injetados na economia nos próximos meses.
Essa injeção econômica não tem representado um excepcional aumento na movimentação do comércio, mas representa uma mudança de comportamento dos consumidores.
De acordo com o gerente de uma loja de roupas no Centro de Lages, Clóvis Furtado dos Santos, desde a segunda quinzena de setembro – período que coincide com o início dos saques – a clientela tem feito muito mais compras à vista do que parceladas.
“Houve certo impacto, mas não foi muito significativo porque não resultou no aumento de vendas. Por exemplo, não batemos metas, ficamos igual a setembro do ano passado. O que é diferente é que as pessoas têm pago mais à vista, o que não é comum acontecer aqui”, analisa, levando em consideração o comportamento dos clientes nas mais de cinco décadas em que atua no comércio.
Elton Freitas, que é gerente de uma loja de móveis e eletrodomésticos, no Centro de Lages, conta que também observou uma mudança de comportamento dos consumidores.
Ele também observou que em setembro cresceram as compras à vista e, além disso, muitos clientes adiantaram prestações ou procuraram a loja para quitar parcelas em atraso.
“Essa mudança de comportamento, provavelmente, acontece por causa do FGTS, porque [o comércio] vinha num momento mais calmo, meio retraído, mas após setembro deu uma melhorada. Até o dia 10 de setembro, o fluxo de clientes foi menor. Após o dia 10, o fluxo foi mais estável, o que também não é comum.”
Sem efeito a longo prazo
Para a Federação do Comércio do Estado de Santa Catarina (Fecomércio-SC), a liberação do FGTS é bastante positiva. Levantamentos apontam que, em média, 40% deste valor deve ser destinado ao pagamento de dívidas antigas, outros 15% tendem a ir para a poupança, e os 45% restantes, normalmente, são usados no consumo de bens e serviços. Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o presidente da entidade, Bruno Breithaupt, ressalta que a iniciativa não tem efeito a longo prazo.
“A medida trará estímulo ao consumo pontualmente, mas o aquecimento da economia só deve durar enquanto os recursos estiverem circulando no mercado. Como já observado em anos anteriores, nem todo dinheiro vai para o consumo. Parte deve ser alocada em outros investimentos, reduzindo o efeito multiplicador da medida na economia. Para um crescimento duradouro é necessária a retomada dos investimentos com estímulos à iniciativa privada, como a redução dos juros, reforma tributária e uma reativação robusta do mercado interno, a partir de mecanismos de geração de emprego, renda e crédito”, declara na nota.
Saque pode ser feito até março de 2020
O saque imediato do FGTS é o saque a que tem direito todo trabalhador titular do FGTS, limitado até R$ 500 por conta do Fundo de Garantia. O saque, feito em contas ativas e inativas, está sendo liberado por etapas, desde o início do mês passado e encerra-se em março de 2020.
Há dois critérios para o saque: trabalhadores que têm conta poupança na Caixa (começou em setembro) e trabalhadores que não têm conta na Caixa; ambos recebem de acordo com o mês de nascimento do trabalhador.
Na próxima quarta-feira (9), inicia-se a liberação da última etapa do saque com crédito em conta, válido para clientes Caixa nascidos nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro.
O calendário para recebimento nos canais de atendimento do banco (que atenderá aos trabalhadores que não têm poupança na Caixa) inicia-se em 18 de outubro e também seguirá um cronograma de acordo com o mês de nascimento. A primeira etapa beneficiará quem nasceu em janeiro.
Por sua assessoria de imprensa, a Caixa informou que o saque imediato poderá ser feito uma única vez, até 31 de março de 2020. Portanto, não se repetirá nos próximos anos.
A Caixa também destaca que o saque imediato de até R$ 500 não impede o trabalhador de sacar o FGTS por motivo de rescisão contratual, bem como não impede o saque para as demais modalidades já validadas, como aposentadoria, aquisição de moradia própria e doença. Em todo o Brasil, mais de 96,4 milhões de trabalhadores têm direito ao saque.