Geral
Novo protocolo diminui mortalidade de pacientes com AVC
Um protocolo de atendimento, adotado pelo Hospital Nossa Senhora dos Prazeres há cerca de dois anos, reduziu em 30% o número de pacientes que morreram após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). O formato de atendimento e os serviços prestados fazem com que o hospital seja referência regional no atendimento destes casos.
O protocolo consiste em oferecer atendimento imediato após a entrada em algum serviço de emergência para pacientes que apresentem sintomas de AVC, seja no próprio Nossa Senhora dos Prazeres, na UPA ou em outros hospitais da região. Tendo o diagnóstico de AVC confirmado, o paciente é transferido para a Unidade de AVC do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages, onde recebe o primeiro tratamento (medicamentoso e cirúrgico, se necessário) e os tratamentos subsequentes, além de já passar pelos procedimentos de recuperação/reabilitação (fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia).
Os pacientes com sintomas de AVC socorridos pelo Samu são diretamente encaminhados para esta unidade especializada e, se confirmado o diagnóstico, também passam pelos mesmos procedimentos. A Unidade de AVC tem 14 leitos e atende entre 10 e 12 pacientes por semana.
Ao lado do infarto, o AVC é uma das doenças cardiovasculares que mais afetam a população e tem altos níveis de mortalidade. É considerada a maior causa de incapacidade nos brasileiros, devido às suas sequelas. No Brasil, são registrados, em média, 108 casos para cada 100 mil habitantes.
Antes da criação da Unidade de AVC em Lages, o atendimento aos pacientes com acidente vascular cerebral não era tão ágil e, além disso, o processo de reabilitação só era iniciado depois que o paciente ganhava alta hospitalar. Agora, além da agilidade com o paciente, a família também recebe suporte, pois, por meio do protocolo, a Unidade disponibiliza atendimento psicológico e de assistência social para os familiares dos pacientes.
Outro ponto positivo observado é a redução no tempo de internamento: antes da adoção do protocolo, um paciente com AVC ficava internado entre 15 e 20 dias. Hoje, permanece no hospital por um período de cinco a sete dias, dependendo de cada caso.
A unidade especializada é composta por uma equipe multidisciplinar, formada por neurologista, neurocirurgião, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicóloga, assistente social, nutricionista e infectologista.
Segundo derrame
A família da aposentada Nilva Pessoa, 81 anos, comprovou de perto o quanto está diferente o formato de atendimento. Isso porque, no último sábado (4), Nilva teve o segundo derrame em um intervalo de três anos. A filha dela, Iara Schlischting, 55 anos, conta que a mudança foi perceptível, especialmente na agilidade do atendimento e no amparo oferecido à família.
Na primeira vez em que Nilva sofreu um derrame, há três anos, portanto antes da implementação da Unidade de AVC, a família precisou esperar mais tempo até que o internamento acontecesse. Desta vez, a aposentada foi imediatamente levada para a unidade especializada, onde foi medicada, começou a reabilitação e os familiares receberam as orientações necessárias. Nilva ainda não está conseguindo conversar, mas suas habilidades motoras estão intactas.
“Apesar de tudo, foi uma experiência única. Tanto a minha mãe quanto nós, os familiares, fomos atendidos por funcionários anônimos que têm seus problemas pessoais no dia a dia, mas são muito humanos e se doaram completamente para que a gente pudesse passar por isso. Esse carinho e respeito foram fundamentais para que ela pudesse estar aqui com a gente hoje. Lages merecia um serviço como este, eu faço votos para que se aprimore cada vez mais”, diz Iara.
Protocolo é considerado o mais completo para tratamento de pacientes
Em Santa Catarina, este protocolo de atendimento para pacientes com AVC, que é considerado o mais completo desta área, é oferecido somente em Lages e em Joinville, este último é referência nacional.
De acordo com o diretor da Unidade de AVC do HNSP, o neurologista Rafael Frizon, além de reduzir as mortes de pacientes e o tempo de internamento, a adoção deste formato de atendimento também diminui consideravelmente o índice de novos internamentos dos mesmos pacientes. Como consequência, Frizon avalia que é possível observar a diminuição dos custos do Sistema Único de Saúde (SUS) com um mesmo paciente.
O neurologista explica que, por começar a reabilitação ainda no período de internamento, logo após sofrer o acidente vascular cerebral, os pacientes saem do hospital menos debilitados. “Quanto mais precocemente iniciar a reabilitação, menos sequelas o paciente vai ter”, afirma.
Frizon ressalta que o tempo para que o paciente receba o primeiros atendimento também é determinante para diminuir as sequelas e aumentar a chance de sobrevivência. Segundo ele, o ideal é que o paciente chegue ao hospital em até quatro horas após sofrer o AVC.
Foi o que aconteceu com a aposentada Santalina de Jesus Lima, 59 anos. Na terça-feira (7) a noite, ela sentiu tontura e fortes dores na cabeça e nas pernas. Ao dar entrada na Unidade de AVC, já com o diagnóstico confirmado, Santalina não conseguia falar corretamente e sentia o lado direito do seu corpo paralisado.
Como foi socorrida imediatamente, ontem de manhã, menos de dois dias após ter o derrame, ela já estava conversando normalmente e havia voltado a movimentar o lado direito do corpo. “Cheguei aqui muito nervosa, mas estou feliz por estar me recuperando bem. Acho que sábado já estarei em casa”, comenta. Frizon destaca que, caso o atendimento tivesse demorado para acontecer, ela poderia ter ficado com sequelas.
Tratamento
Ao dar entrada na Unidade de AVC, os pacientes têm a possibilidade de receber dois tratamentos imediatos: o trombolítico, que consiste em um medicamento que dissolve o coágulo causador do problema; e a trombectomia, um procedimento endovascular feito com um cateter que é inserido no paciente e levado até o cérebro para retirar o coágulo.
A trombectomia feita por poucas instituições de saúde no país. Lages dispõe dessa ferramenta por meio do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, porém, por enquanto, o procedimento só é oferecido para pacientes particulares ou que têm convênios médicos.
Frizon explica que o Ministério da Saúde está avaliando a possibilidade de oferecer a trombectomia pelo SUS e que a liberação pode acontecer ainda no primeiro semestre deste ano. “Nós temos o material necessário aqui pra fazer isso, só falta o Ministério da Saúde aprovar para que seja feito pelo SUS”, comenta o neurologista. Ele conta que em Lages um jovem paciente com AVC já passou por este tratamento e saiu do hospital sem sequelas.