Economia e Negócios
Moradores sofrem com o desabastecimento de água
A estiagem que atinge a Serra Catarinense está causando redução significativa do volume de água nas nascentes da região, além de causar prejuízos consideráveis na produção agrícola. Ontem, choveu, mas a quantidade de água ficou muito aquém do necessário. Em algumas propriedades, já está faltando água tanto para o consumo humano quanto para os animais.
Levantamento feito pela Epagri aponta dificuldade no fornecimento de água ao rebanho nos municípios de Capão Alto, Painel, Anita Garibaldi e Urupema. Neste dois últimos, as prefeituras estão aumentando o número e o tamanho de bebedouros nas comunidades rurais, visando a amenizar os efeitos da estiagem.
Em Lages, moradores da localidade de Dimas Bairros, em Santa Terezinha do Boqueirão, no interior do município, estão sofrendo bastante com a ausência de água. Lá, reside o aposentado Edvino Tadeu Neto Verner, de 69 anos. Há cerca de 30 dias, a única nascente que abastecia a casa dele secou, e agora ele conta com a solidariedade de um vizinho, que o fornece água diariamente para conseguir se manter.
Seu Tadeu, como é conhecido, mora com a esposa e um filho. Diariamente, ele vai de carro até a casa do vizinho, Pedro Gobetti, de 58 anos, o Beto, para buscar galões grandes de água. Chegando em casa, ele coloca a água em um reservatório grande para utilizá-la para o consumo residencial e para matar a sede de animais.
“Eu morava em São José do Cerrito e me mudei para cá faz uns dois anos. Tenho 10 vizinhos e todos eles estão sofrendo com o racionamento d’água de um forma ou de outra. Nunca tinha visto uma estiagem tão forte como esta que estamos enfrentando”, diz.
Para ele, além da forte estiagem, outros fatores contribuíram para afetar as nascentes, como a intervenção humana. Áreas da região foram desmatadas e deram lugar a extensas florestas de pinus. Segundo o morador, possivelmente este fator está interferindo na redução da quantidade de água na comunidade onde ele vive com a família.
Comunidade reivindica um poço artesiano
Na localidade de Dimas Bairros existem cerca de 50 residências. De acordo com Pedro Gobetti, os moradores estão cobrando do poder público a abertura de um poço artesiano para amenizar a falta de água na comunidade em períodos de estiagem, mas até agora não foram atendidos.
“Vários moradores do local estão sentindo os efeitos da falta de água. Apenas três vizinhos meus estão conseguindo se manter com o abastecimento de nascentes, o restante está sofrendo com a falta de água. A nascente que abastece a minha casa continua normal e, além de abastecer minha casa, está ajudando alguns vizinhos”, declara.
Danos no setor agropecuário
Levantamento da Epagri de Lages, feito no fim do ano mês passado, revela que a estiagem já atinge vários municípios da região, afetando lavouras e até o abastecimento de água. Há danos consideráveis nas lavouras de milho, soja, feijão, fumo, batata, tomate e na produção de leite.
Os maiores prejuízos, segundo estimativas, foram registrados nas lavouras de milho, com uma média de 34,85% da safra. Com 60%, Cerro Negro é que registra a maior perda. Anita Garibaldi, Correia Pinto, Lages e Otacílio Costa também registram prejuízos significativos, chegam a 40% na produção.
Nas lavouras de soja, os danos chegam a 15,35%. Anita Garibaldi, Bom Retiro e Painel, com 20%, é que acumulam as maiores perdas. Os estragos nas roças de feijão, por sua vez, chegam a 18,75%. Anita, Capão Alto e São Joaquim, com 30%, é que registram os maiores danos.
A produção de leite também é duramente afetada. De acordo com o levantamento da Epagri, os maiores prejuízos neste setor são registrados no município de Anita Garibaldi, com cerca de 50% de perdas. Bom Retiro, Capão Alto, Celso Ramos, Correia Pinto, Otacílio Costa e Painel, todos têm 30% de danos.
Seguro agrícola
O engenheiro agrônomo da Epagri de Lages, Aziz Abou Hatem explica que os produtores rurais afetados pela estiagem podem acessar os benefícios do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que é um tipo de seguro agrícola, normatizado pelo Banco Central do Brasil, para garantir o pagamento das operações de crédito rural de custeio das lavouras no Brasil, decorrente de intempéries e fenômenos naturais do clima.
“O agricultor que considera ter perdas superiores a 30%, precisa dirigir-se ao agente financeiro e fazer a comunicação de ocorrência de perdas (COP), aguardar a vistoria do perito indicado pelo banco e não colher nenhuma parte da lavoura antes da vistoria do perito e da sua liberação para colher e comercializar a safra”, orienta.
Aziz explica que a Epagri possui escritórios em todos os municípios e presta essa assistência e informação a todos os produtores rurais da região, que procuram assistência técnica ou participam das reuniões anuais do Plano-safra.
Santa Catarina anuncia medidas para minimizar prejuízos com a estiagem
Os produtores rurais de Santa Catarina contarão com dois novos projetos para manter a competitividade dos pequenos empreendimentos: um com base no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e outro na Nota do Produtor Rural.
A Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural espera injetar mais de R$ 60 milhões na economia catarinense nos próximos três anos, fortalecendo a agricultura familiar e minimizando os impactos da estiagem. As medidas fazem parte do Plano de Enfrentamento e Recuperação Econômica, desenvolvido pela Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE) do Governo do Estado.
“Vivemos tempos delicados e o agronegócio catarinense vem passando por grandes desafios. Desde junho de 2019 estamos com uma forte estiagem e agora estamos em alerta com o novo coronavírus, que certamente terá impactos também no setor produtivo. Os novos projetos e a prorrogação do vencimento das parcelas de financiamentos vêm para dar mais segurança aos produtores rurais e pescadores de Santa Catarina, além de manter a competitividade da agricultura familiar. Estamos também em tratativa com o Governo Federal para prorrogação de dívidas de custeio”, destaca o secretário de Estado da Agricultura, Ricardo de Gouvêa.
Vencimento das parcelas de financiamentos será prorrogado
A Secretaria da Agricultura irá prorrogar o prazo de vencimento das parcelas de financiamentos contraídos junto ao Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR). As parcelas anuais que venceriam em março, abril, maio ou junho deverão ser pagas no dia 3 de agosto.
Os agricultores e pescadores interessados na prorrogação dos prazos devem solicitar o benefício através do escritório municipal da Epagri. É importante ressaltar que os contratos com vencimento após 30 de junho de 2020 não serão prorrogados, assim como aqueles produtores inadimplentes com o FDR/SAR por 90 dias ou mais.
As propostas foram aprovadas pelo Conselho de Desenvolvimento Rural (Cederural) em reunião durante a quinta-feira, 2.
Objetivo é permitir que agricultores consigam se manter no campo Foto: Ricardo Wolffenbuttel / Secom / Divulgação