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Morador passa por drama de incêndio pela quarta vez
“Fiquei até as duas da manhã cuidando de um resto de pinheiros com medo que o fogo chegasse neles.” Esse foi o relato do pintor Pedro Vaz, morador mais próximo do incêndio ocorrido no Morro Grande, na noite de terça-feira (22), que atingiu uma vegetação rasteira no reflorestamento de pinus.
A vegetação estava há menos de 10 metros de sua casa e não foi exagero do morador, sua atitude foi baseada em experiência, pois ao menos por quatro vezes sua família passou por esse drama. “Incêndios aqui são rotineiros”, garante.
Ele conta que, desta vez, a esposa Dilma e a filha de 12 anos estavam em casa e ouviram estalos. A cozinheira, que está de férias, foi até a janela, avistou duas pessoas e ameaçou chamar a polícia. “Nisso, o fogo começou no fundos do terreno. Ela até tentou combater mas viu que não iria dar conta. Um vizinho chamou o bombeiro”, explica o morador que chegou em casa minutos depois de o fogo iniciar e também usou uma mangueira para deter o avanço, mas sem sucesso. As chamas chegaram uns 20 metros próximo da residência de madeira.
Seu Pedro mora no Bairro Vila Nova desde 2009 e sabe que é uma região perigosa e, por essa razão, duas cadelas da raça pastor-alemão, a Valentina e a Charlote, cuidam da casa. “Soltamos elas para não morrerem queimadas e fomos para fora da casa sem pegar nada de pessoal”, afirma ao lembrar que quando cuidava do “monte”, durante a madrugada ficou com um lava-jato ao lado.
Ele disse que foram momentos de terror, mas graças aos bombeiros que foram rápidos no combate, nada de grave aconteceu. “Começou na parte de baixo do terreno. O vento espalhou e poucas casas foram atingidas pela fumaça e fuligem”, assegura.
O pintor disse não entender como alguém deixa restos de pinheiro próximo da sua casa com risco de incêndio. “Quando precisei cortar dois pinheiros que ofereciam perigo de cair, tive que caminhar bastante atrás de autorização. Fui quatro vezes na Defesa Civil”, explica.
Três horas de combate
Apesar de os Bombeiros levarem em torno de três horas para extinguir o incêndio e, na tarde de quarta, quase 12 horas após o sinistro, ainda havia pelo menos três focos de fogo na área queimada, estimada em 15 mil metros quadrados. Mas segundo o capitão Varela, do Corpo de Bombeiros Militares, não há risco de reignição, pois no local não há material combustível.
O militar explica que a primeira providência ao combater incêndio em vegetação é preservar residências próximas. Ele também adianta que o bombeiro não investiga incêndio em vegetação. Pode identificar o dono do terreno e pedir apoio da Polícia Militar Ambiental para investigar, se for o caso, mas, segundo ele, é muito difícil responsabilizar os autores.
As maiores dificuldades relatadas pelos bombeiros neste atendimento foram o vento, o terreno íngreme e o acúmulo de restos de galhos e troncos de pinheiros. “A corporação, em caso de incêndio em vegetação, dá prioridade àqueles eventos que colocam em risco as pessoas, residências e ou animais”, comenta. De acordo com os bombeiros, o incêndio no Morro Grande não foi classificado como de grandes proporções, porém, devido à elevação do terreno, a operação para apagar as chamas foi difícil.
O que dizem a Polícia Militar Ambiental e a Defesa Civil
Na Polícia Militar Ambiental (PMA), a informação é que a corporação está aguardando o comunicado oficial do proprietário para tomar as providências que a situação requer. E trabalha a partir de denúncias.
Como a área atingida pelo incêndio é particular, a Defesa Civil não pode interferir, ou seja, o dono pode fazer o que quiser, sem a fiscalização ou licença dos órgãos competentes, por não ser Área de Preservação Permanente (APP) e, dessa forma, a Defesa Civil pode apenas indicar e orientar a melhor maneira de realizar a retirada dos pinheiros, por exemplo. Porém, é sabido que o solo do Morro Grande está muito degradado e empobrecido de nutrientes, de acordo com a PMA.
Sobre as condições de risco no Morro Grande, a gerente da coordenadoria municipal de proteção e Defesa Civil de Lages, Mayara Rafaeli Lemos informou que a área é mapeada como sendo de risco geológico, propensa à movimentação de massa, conforme estudo realizado pelo Serviço Geológico do Brasil. Com o incêndio, aumenta-se a ocorrência de erosão no solo.
No que diz respeito à movimentação de massa, a mesma pode ser agravada em razão da grande quantidade de material particulado disperso no solo e pela retirada dos pinheiros. “Mas isso é preocupante apenas se houver expressivo volume de chuva nos dias subsequentes”, assegura.