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Ala de queimados espera por credenciamento há mais de uma década

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Pacientes recebem tratamento de referência na ala de queimados em Lages - Foto: Susana Küster

Há 12 anos, o Hospital Tereza Ramos possui uma ala de queimados que é referência em Santa Catarina, pelo ótimo trabalho de recuperação que executa nos pacientes. Porém, a ala não é credenciada pelo Ministério da Saúde e isso faz com que não seja reconhecida pelo governo federal, recebendo verba somente do governo estadual.

Apesar disso não implicar na qualidade do trabalho dos profissionais que atuam na ala, se ela fosse credenciada, poderia ter uma estrutura e equipe maior de atendimento, funcionando 24 horas com especialistas dedicados somente para os queimados.

Atualmente, os médicos, por exemplo, também atuam em outros setores do hospital. Além desse fator, o governo estadual não teria que bancar com todo o custo de funcionamento da estrutura sozinho, pois receberia recursos federais.

Os dois médicos especialistas em cirurgia plástica, que atuam na ala, Murilo Dalponte e Edison Parizzi, que é o chefe da unidade, lamentam muito esta situação. Afinal, todo o empenho e sucesso na recuperação dos pacientes não são reconhecidos nacionalmente, segundo os médicos.

Eles falam que se entrar no aplicativo da Sociedade Brasileira de Queimaduras, chamado “Queimei”, que possui informações sobre dicas, prevenções e primeiros socorros relacionados a queimadura, a ala de queimados de Lages nem aparece. O aplicativo manda a pessoa procurar ajuda especializada em Florianópolis ou em Joinville.

Impasse

A deputada federal Carmen Zanotto (PPS), afirma que sabe do impasse e faz tudo que está em seu alcance. Ela afirma que para habilitar o setor de queimados para ser credenciado é precisar alterar a portaria do Ministério da Saúde (GM/MS 1273/2000).

“O checklist do relatório determina centro cirúrgico e UTI dentro da ala, sendo que a UTI fica do lado e o centro cirúrgico bem próximo. Porém, além disso, exige mais médicos e outros profissionais no setor”. Ela afirma que a intenção é que a UTI do HTR fique exclusiva para a ala de queimados, quando a nova estrutura estiver pronta.

O Correio Lageano tentou resposta do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde para saber o motivo dessa falta de credenciamento e o que está sendo feito para resolver esse impasse, que já passa de uma década. Mas, não houve retorno.

Tratamento com pele de tilápia é estudado pelo SUS

A pesquisa sobre o uso da pele de tilápia para o tratamento de queimados, desenvolvida pelo médico pernambucano Marcelo Borges, foi apresentada recentemente ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

A expectativa do médico é que o encontro acelere o processo de incorporação da técnica ao SUS. De acordo com Borges, a ideia é expandir o tratamento que já ocorre de forma experimental no Ceará, no Paraná, Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Goiás e Pernambuco para todo o Brasil.

Segundo ele, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda analisa a eficácia da tecnologia. Somente após a aprovação da agência, a técnica poderá ser utilizada em hospitais públicos que trabalham com tratamento de queimados. As informações são da Agência Brasil.

Como é realizado em Lages

O tratamento de queimaduras com pele de tilápia nunca foi utilizado em Lages. Os cirurgiões plásticos do Hospital Tereza Ramos têm conhecimento de um hospital de Pernambuco que utiliza a técnica. A falta de credenciamento também impede o tratamento com a tilápia, segundos os médicos do setor.

Eles explicam que a pele de tilápia serve como curativo biológico, ou seja, não substitui a pele queimada da pessoa. Para quem sofre queimaduras de terceiro grau, a tilápia não resolve, pois é necessário usar a pele do próprio paciente para fazer um enxerto. “Se o paciente tem queimadura de segundo grau, a pele do paciente vai crescendo embaixo do curativo, seja ele pele de tilápia ou de outro tipo”, explica o médico Murilo Dalponte.

O tratamento para uma pessoa queimada, varia de acordo com sua lesão. Nas queimaduras de primeiro e segundo grau, é muito utilizado um curativo chamado Aquacel, que também é colocado nas áreas de pele doadoras. “Já foi usado até pele de rã e placenta das mulheres que ganhavam filhos aqui no hospital”, lembra o médico Edison Parizzi.

Hoje, o que tem de mais moderno no tratamento de queimados é a derme artificial. “Quando se faz enxerto de uma área para colocar a pele em outra parte do corpo, o local que foi doador de pele fica retraído e isso pode comprometer o movimento da pessoa. A derme artificial traz elasticidade e tem como base colágeno de porco. É um tratamento muito caro, mas utilizamos em alguns casos que são necessários”, explica o médico Murilo Dalponte.

Maioria das queimaduras é por uso de combustível na churrasqueira

Cerca de 60% dos queimados atendidos na ala do Hospital Tereza Ramos, sofrem ferimentos ao usar combustível para acender fogo em churrasqueiras. Somente no último mês, sete pacientes foram atendidos no local, depois de se queimarem com acendimento de combustível.

“O pessoal substituiu o álcool mais inflamável, pelo combustível e não tem noção do risco que está correndo”, frisa o cirurgião plástico, Edison Parizzi. Ele lembra que agora no inverno com o uso mais intenso do fogão a lenha, é preciso tomar cuidado para não sofrer queimaduras.

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