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Lages entre as cidades com maior taxa de HIV/Aids
Em Santa Catarina, 12 municípios participam do acordo firmado entre o Governo Estadual e Governo Federal para priorizar ações de prevenção e maior acesso ao diagnóstico de HIV/Aids, por apresentarem as mais altas taxas de detecção de Aids no Estado
Uma doença silenciosa. Demora para se manifestar e pouco se discute sobre ela. Porém, é necessário que a sociedade invista em informação, conscientização, trabalhos de prevenção e tratamento de pacientes, principalmente, em Santa Catarina, que apresenta a segunda maior taxa de detecção (casos/100 mil habitantes) de Aids do país, de acordo com o Ministério da Saúde, com 31,9 casos a cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Rio Grande do Sul, que apresenta taxa de detecção de 34,7 casos a cada 100 mil habitantes. Lages, na Serra, está em sexto lugar entre as 12 cidades com as mais altas taxas do Estado.
Desde 2014, quando a infecção pelo HIV passou a ser de notificação obrigatória, o número de casos entre pessoas de 20 a 34 anos saltou de 757 para 1.051, em 2015, e para 1.080, em 2016. Esse grupo correspondeu a 54% do total de 1.974 casos de HIV registrados no Estado, no ano passado, de acordo com os dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da SES/SC. “Esses dados indicam duas realidades distintas. Por um lado, estamos ampliando o diagnóstico precoce do HIV, a partir da maior adesão de gestores, profissionais de saúde e cidadãos ao Teste Rápido. Por outro, comprovamos que a maioria das pessoas continua se descuidando da prevenção, ou seja, não está usando preservativo nas relações sexuais”, considera Dulce Quevedo, gerente de vigilância das DST/Aids e Hepatites Virais da Dive/SES/SC.
A afirmação é comprovada pelos resultados preliminares do Estudo POP-Brasil: resultados e ações para o enfrentamento da infecção pelo HPV, realizado pelo Ministério da Saúde, divulgados esta semana. Na pesquisa, dos participantes com idade média de 20,6 anos, somente cerca da metade dos indivíduos (51,5 %) referiram usar camisinha rotineiramente e apenas 41,1 % fizeram uso na última relação sexual.
Lages_ A secretária de Saúde de Lages, Odila Waldrich, explica que o programa de Aids/HIV atua na prevenção de HIV, mas conta com o apoio de Organizações Não-Governamentais.
Para os mais de mil pacientes a Vigilância Epidemiológica realiza atendimento com médicos, enfermeiros e psicólogos, além disso, há um laboratório para fazer os exames que servirão para a detecção da doença. A distribuição de preservativos, que é a forma mais simples e eficiente de proteção contra o HIV, é feita nas Unidades de Saúde da cidade de forma gratuita.
“A doença pode demorar até dez anos para se manifestar. Ao desenvolver a Aids, o HIV inicia um processo de destruição de um dos tipos de glóbulos brancos do organismo da pessoa doente, os linfócitos T CD4 (ou simplesmente CD4). Como esses glóbulos brancos fazem parte do sistema imunológico (de defesa) dos seres humanos, sem eles, o doente fica desprotegido e várias doenças oportunistas podem surgir e complicar a saúde, sendo responsáveis pela morte do paciente não tratado”, explica o médico infectologista Eduardo Campos de Oliveira, técnico da Dive/SC.
Saiba que o HIV é o vírus, e Aids, é a doença
HIV é o vírus da imunodeficiência que pode levar à Aids, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Diferentemente do que acontece com alguns outros vírus, o corpo humano não é capaz de eliminar o HIV, ou seja, uma vez adquirido, o vírus permanecerá no organismo por toda a vida.
O HIV se espalha através dos fluídos corporais e afeta, principalmente, células do sistema imune (sistema de defesa do organismo), chamadas CD4. Com o passar do tempo, o HIV pode destruir essas células de tal forma que o organismo se torna incapaz de lutar contra infecções e doenças em geral.
Quando isso acontece, é sinal de que a infecção pelo HIV levou à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids.
Atualmente, não existe cura efetiva para o HIV, mas cientistas e autoridades mundiais trabalham para encontrá-la. Enquanto isso, com medicações apropriadas, o HIV pode ser controlado. O tratamento médico é chamado Antirretroviral (TARV), popularmente conhecido como “coquetel”. Ele pode prolongar a vida da maioria dos pacientes com HIV e diminuir a chance de transmissão para outros indivíduos.
Antes da introdução do “coquetel”, em meados dos anos 90, as pessoas com HIV progrediam para Aids em poucos anos. Hoje em dia, o indivíduo diagnosticado com o vírus, se tratado antes do avanço da doença, tem expectativa de vida com qualidade e próxima do normal. O tratamento do HIV auxilia o paciente em todos os estágios da doença, e pode diminuir ou prevenir a progressão.
Silêncio atrapalha tratamento e identificação
Para Edilamar Albano, coordenadora do Grupo Raízes, que atende pessoas vivendo e convivendo com o vírus HIV e a doença Aids, o aumento da taxa de detecção da doença se deve à falta de informação e divulgação que a Aids ainda não acabou, na verdade, ela está presente e retornando cada vez mais. Edilamar acredita que, principalmente, a juventude não está consciente sobre como a doença é transmitida, como podem se prevenir e o que ela pode causar na vida dos pacientes. “A epidemia da Aids está aí e não existe grupo de risco, que apenas os homossexuais, prostitua, e não, todos estamos suscetíveis à doença”, a coordenadora completa que os jovens não estão levando a sério a contaminação do HIV.
Fechamento_ Devido à falta de recursos, o grupo que atende mais de 50 pessoas por mês, incluindo acamados e famílias que recebem cestas básicas, corre o risco de fechar. Edilamar afirma que se não conseguir patrocínio ou recursos para manter a casa, encerrará as atividades.
Para tentar se manter, o grupo está vendendo ingressos para um almoço neste domingo, no Salão da Igreja Santa Cruz, no Centro de Lages. O valor é de R$ 20. A expectativa é vender 250 ingressos, mas apenas 100 foram vendidos.
Edilamar acredita que o baixo número de ingressos vendidos se deve ao preconceito das pessoas que, por falta de informação, não compreendem a doença e não ajudam grupos que apoiam as pessoas que vivem e convivem com a doença.
Lei cria dezembro vermelho em todo o país
A campanha, da Lei 13.504, que institui a Campanha Nacional de Prevenção ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (Dezembro Vermelho), terá foco na prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/Aids. Serão realizadas, ao longo do mês de dezembro, atividades e mobilizações tais como iluminação de prédios públicos com luzes na cor vermelha; veiculação de campanhas de mídia; palestras e atividades educativas; e promoção de eventos. A instituição da campanha já havia sido aprovada em agosto pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal.
As ações do Dezembro Vermelho serão realizadas em parcerias entre o poder público, sociedade civil e organismos internacionais, de acordo com as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) para enfretamento da Aids e outras ISTs.