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Haitianos contam com solidariedade de voluntários

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Rams, na Polícia Federal de Lages, em um dia que acompanhava seus conterrâneos - Foto: Bega Godóy

A miséria e a falta de expectativa de postos de trabalho no Haiti, leva centenas de haitianos a deixarem sua pátria. Desde 2010, o país caribenho tenta se reerguer do terremoto e, há dez anos, vive sob tutela das  tropas da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti). Não contentes com a situação, quem pode pede refúgio em outros países e na hora da fuga o Brasil é um dos destinos preferidos.

Com esperança de uma vida melhor no Brasil, Rams Philot Bossous de 32 anos veio para cá em janeiro de 2013. Por dois anos teve de suportar a saudade da esposa Marimene e da filhinha de 8 anos, Shouselie, até que conseguiu trazê-las para o Brasil.

Hoje, os três moram em Caçador. Nem ele, nem a esposa voltaram a ver suas famílias, e a de Rams é grande: tem 13 irmãos e os pais. “Não voltamos para vê-los porque não temos dinheiro,” explica ele que opera sua máquina pesada na microempresa que montou.

Sensível com a situação dos conterrâneos, Rams virou uma espécie de despachante e, junto à mulher, orienta-os nas questões de documentação, colocação no mercado de trabalho e, muitas vezes, arranja um local de moradia para os que chegam. Ele garante que, desde 2015, quando assumiu essa segunda função no Brasil, já encaminhou quase 800 haitianos.

Solidariedade

Dona Silvia Maria de Jesus também se sensibilizou com as condições dos refugiados do Haiti. A sua casa, no Bairro Triângulo, em Lages, é ponto de acolhimento de doações para refugiados. Ela os acompanha à Polícia Federal, ao Ministério do Trabalho e às Unidades de Saúde. Montou um  grupo de WhatsApp para gerenciar as doações. “Muitos chegam a Lages já sabendo que podem contar comigo,” diz ela, que virou referência humanitária.

Silvia tem um ateliê de costura e quando percebe que algum refugiado tem aptidão, ensina o ofício e tenta colocá-los no mercado de trabalho. Ela faz tudo voluntariamente. Agora, está preocupada em encontrar vaga em creche para um menina haitiana. “Conseguimos vaga muito longe do bairro. Os pais trabalham na Malke e gastam muito com transporte”, argumenta.   

Caminho para a legalização

O responsável pelo Setor de Imigração da Polícia Federal, o agente federal, Thales Brasil, disse que em média faz oito atendimentos a refugiados, por dia, e que geralmente são pessoas de baixo poder aquisitivo, com ensino fundamental completo e que buscam uma condição de vida mais digna.

Lembrou até que em Lages mora um refugiado sírio que possui mestrado. Ele era professor na Síria, largou tudo e hoje mantém uma loja de brinquedos na  rua Correia Pinto. Além de haitianos, venezuelanos, cubanos, senegaleses, sírios e paquistaneses procuram a Polícia Federal de Lages.

Os refugiados buscam a legalização e quem vem de países-membro do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) e de seus associados (Chile, Bolívia, Peru, Colômbia e Equador), tem maior facilidade na obtenção do documento de estrangeiro.

Para os estrangeiros que vêm ao Brasil com visto (de acolhida humanitária, de trabalho, de estudo), basta apresentar-se ao Setor de Imigração com a documentação exigida e o próprio visto.

E, por fim, para os solicitantes de refúgio, é preciso que o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare)  julgue procedente o pedido. O estrangeiro que solicita refúgio permanece com o protocolo de solicitação de refúgio, que tem a validade de um ano. Com este documento, que pode ser prorrogado, o estrangeiro consegue emitir a Carteira de Trabalho e de Previdência Social (CTPS).

Thales explica que até julgarem o pedido de refúgio, eles podem ficar no Brasil. Se ainda não foi julgado, o protocolo de solicitação de refúgio pode ser renovado sempre que expira. Geralmente, o Conare leva cerca de três anos para concluir o procedimento.

Mercado de Trabalho

Quando procuram colocação profissional, os refugiados são acolhidos em indústrias e frigoríficos, mas também são contratados no comércio. A BRF, de Campos Novos/SC, por exemplo, possui muitos funcionários haitianos.

Sem o documento emitido pela Polícia Federal, o estrangeiro está em condição ilegal no Brasil e passível de deportação. Outro grande problema é a dificuldade em conseguir trabalho, uma vez que o empregador precisa ter a ciência de que o seu trabalhador está de forma legal em território brasileiro.

Estão chegando a todo momento e, agora, mais frequentemente em Santa Catarina, os venezuelanos. Muitos deles no passado foram atendidos aqui em Lages. “Porém, a grande demanda ainda é de haitianos, que realmente não param de chegar”, explica Thales ao observar que o procedimento é realizado mediante agendamento prévio, via site oficial da Polícia Federal. O atendimento em Lages demora cerca de 10 dias para ocorrer. 37 municípios abrangem a circunscrição da Polícia Federal de Lages, por isso o trânsito de refugiado é intenso.

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