Coronavírus
Gibrail Dib Antunes Filho responde a dúvidas sobre o coronavírus
Hoje o coronavírus é o assunto, de fato, mais falado em todo o planeta. Mas, em meio a tanta informação, muitas dúvidas ainda pairam no ar. Entre elas, está a reinfecção.
Pessoas já curadas podem transmitir? Com a chegada do inverno o problema na Serra vai piorar? Por que tantos jovens estão adoecendo? E quando tudo isso vai acabar? Essas são algumas das muitas dúvidas. Nesta entrevista, o médico neurocirurgião Gibrail Dib Antunes Filho responde e ainda deixa um alerta: “Ficar em casa ainda é a melhor prevenção”.
Dr Gibrail, já temos muitos casos de pessoas curadas da Covid-19. Mas uma dúvida ainda resta. Essas pessoas não transmitem mais o vírus?
Para a gente entender um pouco melhor precisamos entender o que que seria o estar curado. Uma vez que temos uma contaminação pelo vírus, que somos infectado, o nosso organismo, vai sofrer e vai, ao mesmo tempo, lutar e tentar criar defesas e uma imunidade pra esse vírus não nos afetar novamente. Então, uma vez que sejamos infectados pelo vírus, o nosso organismo começa a criar uma defesa e nós vamos ter marcadores que vão nos mostrar a que nível se encontra essa defesa. Com o passar dos dias, essas células vão nos orientar no sentido de que a imunidade foi criada e de que o paciente se encontra curado. Isso significa que o paciente criou uma defesa, uma imunidade contra o vírus. Então teoricamente, normalmente, pelo que se sabe a nível de ciência, ele não estaria mais em uma fase de contaminação, não irá mais contaminar outras pessoas.
É possível ter reinfecção? Ou a pessoa que já teve fica imune à doença?
Com relação ao paciente ser reinfectado pelo vírus, existem alguns relatos na China e no Japão indicando ou falando que pacientes foram testados depois da cura e positivaram novamente para covid-19. Sobre isso, se for pensar de uma maneira infecciosa, a maioria dos infectologistas afirmam que isso não seria possível. Porque teoricamente, uma vez que houve a infecção e o corpo criou a defesa, não poderia mais ser contaminado, a menos que fosse um segundo vírus ou algum outro tipo de infecção. Então isso ainda causa bastante discussão no meio médico, na ciência e não é uma resposta que se tenha uma certeza absoluta, mas pensando de uma maneira lógica não se poderia desenvolver uma infecção pelo mesmo vírus.
Uma grande apreensão é a chegada do inverno. Sabe-se que o vírus sobrevive mais em temperaturas baixas. Essa preocupação procede?
Existe essa preocupação com a chegada do inverno e uma informação que o vírus se manteria mais tempo em ambientes frios. Havia também, inicialmente, certos comentários que devido as altas temperaturas do verão no Norte do país, o vírus não conseguiria se manter em atividade e contaminar as pessoas. O que se constatou é que com relação a temperatura alta isso não foi factível, tanto é que o Norte do país está tendo um surto, com uma incidência e com o nível de hospitalização maior do que o Sul do país. Então não se tem cientificamente essa certeza. O que a gente sabe é que com a chegada do inverno a tendência é de ficarmos em ambientes fechados, arejar menos as casas devido ao frio, como também aumenta o número de pessoas no mesmo ambiente. Sem falar no fato que temos outras infecções, outras gripes, influenza, H1N1 e a própria baixa da imunidade que poderia favorecer um aumento de infecções da Covid-19.
Muito se fala do grupo de risco. Mas o que se vê no Brasil é um grande contágio entre pessoas de 25 a 57 anos. Será que conforme o país o vírus se comporta diferente? Ou por ter se alarmado tanto a proteção aos idosos, as pessoas mais novas não estão se cuidando?
Relacionado com a faixa etária dos pacientes infectados, desde o início, sempre foi priorizado, sempre foi alarmado que a grande preocupação seria a faixa etária acima dos 60 anos, normalmente por terem uma imunidade mais baixa e fatores de risco associados a outras doenças como diabetes, hipertensão, cardiopatias, enfim doenças que diminuiriam a imunidade, e que fariam ou poderiam fazer com que a infecção pela Covid-19 se tornasse mais grave, levando a internamentos e também a uma taxa de mortalidade maior do que na faixas etárias menores. Ao mesmo tempo tem sido visto que a população entre 20 e 60 anos também têm uma incidência e uma taxa de hospitalização e de contaminação alta. O que que isso quer dizer? Quer dizer que o vírus não ataca só os idosos, ele ataca a todos. Então não significa que você, por ser jovem, não pode se contaminar, por isso a importância dos cuidados de isolamento, de higiene, de mudanças dos hábitos de vida, como tirar o sapato para entrar em casa, lavar as mãos. Cuidar com contato com mucosas, como olho e boca, após tocar objetos eventualmente que são contaminados, como o banco do ônibus, o caixa eletrônico. Enfim, todos os cuidados que estão sendo exaustivamente passados pelo Ministério da Saúde e pelos órgãos reguladores das áreas de saúde e que têm orientado a população para tentar minimizar o contágio e a infecção pela Covid-19.
Como um surto como esse acaba?
Essa é uma incógnita. Infelizmente uma pergunta ainda sem resposta. A gente imagina que com os cuidados, com o isolamento social, com tudo o que vem sendo feito, que gradativamente as pessoas vão tendo contato com o vírus e criando a imunidade tornando o vírus mais fraco, até um determinado momento que se tornaria como uma gripe simples, que não afetaria e não traria todos esses problemas e esse medo que estamos vivendo. Mas, infelizmente só com o tempo que iremos ter essa resposta.
Suas considerações finais.
Quero deixar um recado que é um recado que já vem sendo passado diariamente. Devemos nos cuidar, tentar mudar um pouco as rotinas, a questão de higiene os cuidados básicos com relação à lavagem das mãos, a higiene da casa, deixar os calçados na parte de fora. Enfim, pequenas mudanças que fazem a diferença e nos ajudam no controle dessa epidemia. Mais recentemente, o uso de máscara, principalmente em pessoas que estão com sintomas. O respeito e a consciência em evitar aglomerações. Tudo isso evita a contaminação pelo vírus e, ao mesmo tempo, nos dá tempo para atendermos nos hospitais os pacientes que precisam de internamento. Conseguir tratar esses pacientes, liberá-los para casa, fazendo com que o leito fique livre para, eventualmente, um novo paciente que vai chegar dentro de alguns dias. Esse é o grande segredo que estamos tentando fazer para tentar controlar a infecção. O nosso maior medo é uma contaminação em massa, como vimos em muitos países, onde muitos pacientes precisam do atendimento médico hospitalar ao mesmo tempo. Essa situação levará, infelizmente, ao caos, a superlotação da estrutura e consequentemente, a um aumento de casos graves e aumento de mortalidade. A tentativa de baixar essa curva, que tanto se fala, é justamente isso, conseguir ir tratando caso a caso, liberando leito, fazendo com que se tenha a estrutura para conseguir ajudar a todos. Por outro lado, sabemos que o isolamento indefinido é impossível. Sabemos que a nossa economia não pode parar e que todos precisamos trabalhar e levar o sustento para casa, mas acredito que no final de tudo o bom senso, os cuidados de higiene e o respeito mútuo entre as pessoas é o que vai nos ajudar daqui pra frente.
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