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Fotografia: do analógico ao digital

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Foto: Susana Küster

Egídio Bampi é conhecido em Lages como um dos fotógrafos mais antigos da cidade. Com 80 anos de idade, sendo que 61 foram dedicados a profissão, ele ainda respira fotografia e trabalha com muito zelo e atenção aos seus clientes.

Ao falar da época da fotografia analógica, seus olhos se enchem de lágrimas. “No dia 7 de setembro, costumava vender até 400 filmes, hoje, às vezes, vendemos três em um mês”. Para se manter no mercado, foi preciso ampliar os produtos, hoje, são vendidos álbuns, quadros e feitas fotos na hora, que são muito usadas para currículos ou documentos.

A demora na revelação de fotos, que leva cerca de 20 dias e o preço do filme, hoje vendido a R$ 30, são alguns dos fatores que afugentam os clientes da fotografia analógica. Quando não existiam máquinas digitais e celulares, um filme custava R$ 7. Bampi, manda as fotos que precisam ser reveladas para Rio do Sul, porque não vale a pena fazer isso, pois os produtos químicos usados ficam velhos, já que não há tantos clientes para este tipo de foto.

Para ele, a qualidade das fotos hoje diminuiu bastante, porque a maioria das pessoas não contrata fotógrafos ou tem máquina fotográfica. As pessoas preferem a instantaneidade do celular. Mesmo com todas as dificuldades do ramo, Bampi não tem dúvidas de que seguiria a profissão. Segura com orgulho, máquinas antigas, que não são mais usadas na loja, mas fazem parte da história de sua vida. Seu filho, trabalha com ele no estabelecimento que é movimentado, dada a tradição que tem em Lages.

 

Foto como prova

Há um cliente de Bampi que revela as fotos com frequência. Mas faz isso por uma questão de trabalho. Como é engenheiro agrônomo e trabalha no Sicredi de São José do Cerrito, Salvador Marconi Ivo Srierich precisa provar em processos e projetos o que as propriedades rurais possuem.

Para isso, nada melhor do que uma foto revelada e anexada ao documento. Porém, apesar de, há mais de 20 anos revelar fotos com Bampi, ele não tem o costume de revelar fotos pessoais. Elas ficam armazenadas no celular.

Foto digital traz mudança de comportamento

Antigamente, as famílias se reuniam para serem fotografadas. Não eram todos que podiam contratar um fotógrafo, porque era um profissional caro. A ansiedade em ver o resultado da foto era grande, diferente de hoje, que vemos depois de segundos o que foi clicado. A facilidade de deletar álbuns digitais em um clique deixa a fotografia ainda mais efêmera.

A jornalista, publicitária e pedagoga, doutora em ciências da linguagem, Íria Queiroz Baptista, diz que é importante lembrar que o fotógrafo, através de seu poder criativo, de seu conhecimento técnico, de suas experiências culturais torna-se capaz de influenciar no resultado final do registro visual.

“De acordo com o fotógrafo Luiz Carlos Felizardo, os processos necessários para transformar uma visão em fotografia tomam tempo, dão trabalho e exigem respeito pelo assunto que irá compor a imagem, motivo pelo qual se faz necessário que o fotógrafo entenda a estrutura que vincula os múltiplos elementos que farão parte do registro, da mesma forma que um compositor ordena uma frase musical.”

Ela analisa que a facilidade com que as fotografias podem ser produzidas na atualidade fez com que as pessoas, de modo geral, entendessem que para fotografar não há necessidade de conhecimento técnico ou habilidade estética ou artística.

“Isso gerou uma produção exagerada de registros imagéticos que trouxe consigo, a banalização da fotografia, fazendo com que muitas pessoas passassem a acreditar que todos os registros visuais pudessem ser realizados por qualquer pessoa que possuísse um equipamento capaz de fazer registros de imagem, ignorando o conhecimento necessário para distinguir um bom trabalho profissional nas áreas sociais, artísticas, comerciais, ambientais, jornalísticas, entre outras”.