Geral
Falta de leito na UTI prejudica saúde dos pacientes
36 leitos de UTI para atender mais de 300 mil pessoas. Esses são os números que os três hospitais de Lages têm para administrar diariamente, já que atendem moradores dos 18 municípios da Serra Catarinense.
Apesar de estar dentro dos parâmetros definidos pelo Organização Mundial da Saúde, que recomenda um leito para cada 10 mil habitantes, a quantidade está longe de atender a demanda. É comum pacientes que necessitam de terapia intensiva, ficarem internados de forma provisória nos setores de emergência.
O problema é que Lages é polo macrorregional de saúde e atende pessoas do Meio Oeste e até do Alto Vale do Itajaí, somando praticamente um milhão de habitantes, situação que põe por terra qualquer cálculo das instituições de saúde.
São 10 leitos de UTI adulto e seis para o neonatal, no Hospital Tereza Ramos (HTR); 10 leitos de UTI, no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (HNSP) e três leitos neonatais e sete pediátricos, no Hospital Infantil Seara do Bem. Não é raro ver pessoas internadas na Emergência do Nossa Senhora dos Prazeres com uma estrutura de UTI, já que não há leito disponível.
Fato ruim para o paciente que não está em um ambiente adequado, pois UTI é um local isolado, e não com um trânsito intenso de pessoas. Além disso, o hospital mantém uma estrutura de UTI, mas não recebe por isso, porque um espaço numa sala de emergência, não é visto e nem pago pelo Ministério da Saúde como um leito de UTI.
Os pacientes que mais sofrem são aqueles que precisam de cirurgia cardíaca e neurológica, pois todos precisam de um leito de UTI para se recuperar. Quando não há leito disponível, eles não fazem o procedimento, ficam internados na emergência ou vão para a casa, podendo sofrer sequelas pela demora no atendimento.
Quando há risco de morte iminente, a pessoa não passa pelo sistema. Nesses casos, o núcleo interno de regulação do hospital, o médico da UTI e o do paciente, seguem critérios do Conselho Federal de Medicina para decidir quem ocupa o leito. Depois, as informações vão para o Sistema de Regulação (Sisreg) que dá aval para o internamento.
No caso do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, que possui 10 leitos de UTI, em breve, dois deverão ser reservados para pacientes de convênios médicos. Segundo dados do hospital, no mínimo 60% do atendimento deve ser pelo SUS (o que já é feito) pois a entidade é filantrópica. E os convênios cobram para que seus pacientes tenham cobertura, caso precisem.
Mesmo com a falta de leitos, o hospital avalia que a situação está melhor, de quando os pacientes eram encaminhados para fazerem cirurgia cardíaca em Rio do Sul. Hoje, o hospital informa que a espera por uma cirurgia cardíaca é de, em média, um mês e que antes (quando era feito em Rio do Sul) esse prazo era seis meses. Também não há mais fila de espera para cateterismo e angioplastia.
A espera por um quarto lhe causou um infarto
Foram dois meses de espera para fazer uma cirurgia cardíaca, até que um dia, Renilto Tadeu da Silva, 61 anos, sofreu um infarto dentro do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres. Ele estava internado, quando sofreu o ataque cardíaco e por isso, foi atendido rapidamente.
“O médico disse que o stress causado pela espera foi o que causou o infarto. Imagina, por quatro vezes foram no meu quarto e disseram que iam me operar, me preparavam, tomava medicação e um pouco antes, diziam que tinha sido cancelada, porque tinha chegado um acidentado.”
Depois da cirurgia, Silva parou de trabalhar como caminhoneiro e não tem previsão do médico liberá-lo para o trabalho. Após um tempo que voltou para casa, sofreu um novo infarto. “Depois que se sofre um problema no coração, fica mais suscetível acontecer de novo.”
Outro caso
Um homem que não será identificado, por medo de represália, aguardou há um ano por uma cirurgia cardíaca, mesmo correndo risco de morrer pela espera. Aos 66 anos, ele foi diagnosticado há um ano com um aneurisma no coração e precisa fazer uma troca de aorta ascendente.
A espera por cirurgia ocorria desde a descoberta da doença. Primeiro, o SUS não tinha material para o procedimento, depois não havia leito de UTI no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, o que demorou 19 dias para ele conseguir.
Na maior parte desse tempo, ele ficou internado no hospital e aconteceu de ser preparado para a cirurgia e ela ser adiada. “Como o hospital atende a demanda do município e mais as redondezas, não tem leito suficiente.
Ele estava pronto, indo para o centro cirúrgico, aí chegaram duas pessoas esfaqueadas e pegaram a vaga”, conta a filha, que lamenta o fato do pai ter corrido risco de morrer a qualquer momento. Ela diz que se o aneurisma se rompesse, mesmo com o pai dela dentro do hospital, a morte seria súbita, não daria tempo de socorrer.
Problema impede médico de fazer cirurgia cardiológica
O médico cardiologista e responsável técnico pelo serviço de cirurgia cardiovascular do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (HNSP), Djalma Luiz Faraco, lamenta ter que recusar atendimento, quando ele é preciso ser feito.
Há quase 40 anos atuando como médico, afirma que a situação do HNSP é a pior que já viu em Santa Catarina, pois ele deixa de fazer cirurgia por falta de leito na UTI. “Ao mesmo tempo que meu paciente precisa do leito, há cinco pessoas aguardando pela vaga. Têm casos que os pacientes são liberados porque não abre vaga na UTI, e com isso, o quadro clínico pode agravar”. Na opinião dele, é preciso triplicar o número de leitos de UTI para que a demanda seja atendida.
Ele afirma que são feitas seis cirurgias por mês, sendo que o ideal era que fossem realizadas o dobro. “Eu operei um caso em quinze dias…é muito pouco. E, uma força de trabalho parada. Já aconteceu de não ter leito de UTI e termos que adiar a cirurgia de um paciente, que sofreu uma lesão cardíaca que não precisava ter.”
Outro ponto crítico apontado pelo profissional são os pacientes que possuem doenças terminais e precisam de leito de UTI, por bastante tempo. Na visão do médico, o ideal seriam leitos específicos para esses casos.
“Até na minha família, já teve situações de paciente terminal que ficou em UTI, onde não tem contato com os familiares e não fica em um espaço agradável. Esses leitos de UTI poderiam ser ocupados por pessoas que têm chance de sobrevivência. Conheço em Curitiba duas clínicas especializadas em pacientes terminais.”
Dinheiro para ampliação está parado
Uma obra de ampliação do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres deve aumentar em mais 10 leitos de UTI, dobrando a capacidade de atendimento atual. O projeto está pronto e o recurso do Ministério da Saúde, de R$ 7 milhões está disponível nas contas do governo estadual há dois anos, segundo informações do hospital. Porém, o projeto não é aprovado pela Secretaria de Estado da Saúde. O tempo da obra é previsto em dois anos.
Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, o projeto passa por uma avaliação de seis pontos pela equipe da Gerência de Obras e Manutenção da Secretaria de Estado da Saúde.
A nova ala do Hospital Tereza Ramos, que tem promessa de inaugurar no início do segundo semestre do ano que vem, deve amenizar a falta de leitos de UTI na região. Foi divulgado pelo secretário de Estado da Saúde, Helton Zeferino, que o hospital terá 10 leitos de UTI e 46 leitos de internamento. O Nossa Senhora possui 167 leitos normais, sendo que 106 são do SUS, que estão quase sempre lotados, segundo dados do hospital.
Parceria entre hospitais
Em uma reunião recente com o secretário de Estado da Saúde, Helton Zeferino, lideranças políticas, entre elas, a deputada federal, Carmen Zanotto, foram informadas de que os cardiologistas do Nossa Senhora dos Prazeres foram convidados a assumir os leitos do Tereza Ramos para os internamentos serem feitos naquele hospital.
Porém, a deputada conta que o secretário disse que a resposta dos médicos foi negativa. Entretanto, o médico cardiologista e responsável técnico pelo serviço de cirurgia cardiovascular do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (HNSP), Djalma Luiz Faraco, frisa que o convite não aconteceu. “Estamos todos do mesmo lado, independentemente de qual hospital se trabalha, o importante é resolver esse problema”, destaca o médico.
Deficit de leitos no Estado chega quase a 700
O Estado possui 16.853 leitos normais, sendo que 11.947 são usados pelo SUS. O deficit de leitos normais no Estado é de 679, segundo cálculos da secretária municipal de Saúde de Lages, Odila Waldrich.
O número de leitos normais do Meio Oeste e da Serra Catarinense é 2.725, sendo 2.070 usados pelo SUS. As regiões são consideradas pelo Ministério da Saúde como uma só, e denominada de Macroserra.
“Uma região isolada da outra era considerada pequena para o Ministério, então tivemos que nos unir. Mas isso é ruim, porque hoje o planejamento tem que ser um só, desde o financeiro até os serviços prestados”, explica a secretária.
Quando se fala em quantidade de leitos de UTI, o número cai drasticamente para 712 no Estado, sendo que 36 ficam em Lages, divididos entre o Hospital Tereza Ramos (16), Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (10), e Hospital Infantil Seara do Bem (10).
Ela explica que o Tereza Ramos só pode receber pacientes pelo SUS, já o hospital infantil e o Nossa Senhora dos Prazeres podem, legalmente, atender parcialmente de forma particular e pelos convênios. “É bom deixar claro que é o Sistema de Regulação, chamado Sisreg, que determina para qual hospital o paciente será internado.”
A secretária acredita que a situação só irá melhorar quando a nova ala do Tereza Ramos for inaugurada e o Estado liberar os recursos para a construção de mais leitos no Nossa Senhora.
Quantidade de leitos de UTI em Santa Catarina
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde