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Escola de Samba promove Carnaval de Rua em Lages

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Foto: Adecir Morais

O desfile não é oficial, mas vai ter escola de samba, fantasia, enredo e bateria. Apesar de a Prefeitura de Lages e a Liga das Escolas de Samba não promoverem, oficialmente, o Carnaval 2020, um desfile está programado para domingo (23), na Avenida Antônio Ribeiro dos Santos, Bairro Várzea. 

Organizado pela Escola de Samba Argemiro Madruga, o desfile comemora os dois anos de existência da agremiação. Com integrantes interessados em sambar na avenida, e sem um evento formal, a diretoria decidiu organizar a festa. “As escolas que integram a Liga das Escolas de Samba de Lages foram convidadas, mas nenhuma confirmou a participação”, explica o presidente da escola, Marcelo Campos. 

O samba enredo ‘Índio quer apito, se não der pau vai comer’ é de um compositor curitibano chamado Panelão. Para o ano que vem, a intenção é fazer alguns sambas enredo e colocar para votação na comunidade. “A maioria quer que para o próximo ano, se tiver Carnaval, fazer um samba que fale das raízes de terreiro, ‘Que terreiro é esse?’, fazer um samba disso.” 

No sábado (22), os lageanos da escola da Várzea participaram do desfile da Unidos do Herval, em Joaçaba, que levou para a avenida uma história falando de vinho o ‘Balacobaco’. Neste domingo (23), os integrantes da agremiação do Meio-Oeste fazem o caminho inverso e vêm para Serra. 

Trechos do samba enredo da escola

Sou Argemiro Madruga guerreiro

A minha escola vai fazer você mexer

O nosso tigre já rugiu o mundo inteiro

E quer apito, se não der pau vai comer 

Começou o fogo lá na mata, sinal de fumaça 

Aí foi que Cabral encontrou 

Tupinambá, mulheres Guerreiras

A beleza selvagem, essa pele figueira 

Mãe natureza cuida da beleza

Desse lindo visual. 

Programação

A festa de Carnaval começa às 18h, com a apresentação de um show de sertanejo universitário, às 20h30, sobe ao palco um grupo de pagode. Antes da escola de samba entrar na avenida, haverá desfile de dois blocos: Manequinho e Unidos da Várzea, ambos com tradição no Carnaval lageano. 

A história da escola

Argemiro Madruga nunca fez um desfile oficial como escola, apenas como bloco carnavalesco – foram seis anos. A vontade dos interagentes de entrar na avenida em um desfile oficial fez com que passassem de bloco à escola. “A gente achava que neste ano teria Carnaval de Rua oficial, sentamos com a nossa comunidade, decidimos ser escola e integrar a Liga das Escolas de Samba de Lages”, conta Marcelo Campos. Porém, apesar da mudança, ainda não podem fazer parte da entidade, é somente depois de quatro anos consecutivos de desfiles oficiais que terão esse direito. 

O nome da escola é uma homenagem ao ex-vereador, que também dá nome ao condomínio residencial onde é a sede da escola. “Madruguinha foi vereador por diversas legislaturas, usamos Argemiro Madruga, talvez ele não fosse carnavalesco, mas era ‘povão’, e é o nome do lugar onde moramos. Fizemos uma reunião e pedimos autorização para a família para usar o nome.”

Último Carnaval oficial foi em 2006

Lages novamente não terá Carnaval oficial de rua, isso porque as escolas de samba não dispõem de recursos financeiros. Desde 2006, não há desfile em Lages. O Ministério Público de Contas (MPC/SC) recomendou, novamente, à Prefeitura de Lages que não invista recursos financeiros nesta festa tradicional brasileira. 

O presidente da escola Protegidos de São Carlos, do Bairro Habitação, Luiz Lima Lins, informou que para poder colocar uma escola na avenida é necessário, no mínimo, R$ 60 mil. A rifa de um carro, organizada para esse fim, não rendeu o suficiente. “Tem escolas que têm de R$ 15 mil a R$ 20 mil, mas aí não tem como, e na ‘era’ em que estamos, não podemos depender do dinheiro público”, comentou. 

Segundo a Fundação Cultural de Lages (FCL), todos os anos as escolas de samba fazem solicitação para o Carnaval. Para 2020, a Prefeitura ofereceu auxílio com logística, mas as escolas e grupos não teriam entrado em consenso. O oferecido pelo poder público era som, divulgação e auxílio no trânsito. No caso do Carnaval no Bairro Várzea, se dispôs a controlar o trânsito. 

Marcelo Campos lamenta não haver desfile de Carnaval desde 2006. “Se de 2006 para frente tivesse continuado, hoje o nosso Carnaval seria como o de Joaçaba, porque eles aprenderam a fazer conosco”, explica o presidente da Argemiro.

Para Luiz Lima Lins, a culpa pelo fim do Carnaval de rua é coletiva. “Eu culpo o poder público, o comércio, as empresas, e as seis escolas de samba filiadas à Liga das Escolas.”

Depois de 2006, os desfile foram realizados na Avenida Marechal Floriano, no Centro; e na Avenida Álvaro Nery dos Santos, no Bairro Habitação. 

Desfile oficial de Carnaval em Lages, no ano de 2006 – Foto: ArquivoCL

Recomendação contra realização do Carnaval

O Ministério Público de Contas (MPC/SC) recomendou, novamente, que prefeituras com problemas financeiros não destinem dinheiro ao Carnaval. Há alguns anos, essa tem sido a orientação, seja por meio de contratações diretas, transferências voluntárias, convênios, patrocínios ou qualquer outra forma que implique destinação de recursos públicos para tal finalidade. Essa recomendação acontece desde 2016, e este ano foi enviada para 30 municípios.

Segundo o documento, assinado pela procuradora Cibelly Farias, a sugestão é que o investimento não seja feito: “caso esteja enfrentando – ou na iminência de enfrentar – qualquer tipo de dificuldade financeira que implique em restrições na prestação de serviços públicos de saúde, educação ou segurança, bem como com relação ao pagamento da remuneração de seus servidores e prestadores de serviço.” Lages não passa por essa situação, mesmo assim, a justificativa para não promover o evento junto à Liga das Escolas, é esse documento. 

Entrevista com Cibelly Farias, procuradora do MPC/SC

Cibelly Farias, procuradora do MPC/SC – Foto: Douglas Santos/TCE-SC

Correio Lageano: A recomendação foi encaminhada a todos os municípios do Estado?

Cibelly Farias: Não, é um trabalho que iniciou em 2016, quando notificamos 17 municípios de grande porte no Estado e que tínhamos conhecimento que têm tradição em realizar gastos com Carnaval. Esse quantitativo foi aumentando a cada ano e, neste ano, notificamos 30 municípios, que são os grandes, como falei, os que temos conhecimento que costumam ter tradição de Carnaval e Rua.

Por que essa recomendação? 

Nós sabemos que muitos municípios do Estado de Santa Catarina enfrentam dificuldades financeiras, analisamos as prestações de contas anualmente e identificamos essas dificuldades. O que o Ministério Público quer com essa recomendação, é que o gestor, antes de fazer esse tipo de gasto, avalie o que está acontecendo com seu município, ou seja, se está com dificuldades financeiras para pagar serviços essenciais, como saúde, educação e segurança, ou se, na projeção que tem para o ano, vai faltar dinheiro para pagar esses serviços, então, que ele evite e não faça esse tipo de despesa, que podemos considerar como não essencial, dentro do quadro de despesas que o município é obrigado a fazer.

Ele tem que fazer essa avaliação. Claro que o Ministério Público de Contas não está impedindo o gestor de fazer, essa é uma decisão dele, mas estamos alertando que se tiver dificuldades financeiras ou na iminência de ter essas dificuldades, que não faça esse tipo de gasto. Porque isso pode gerar consequências depois, durante o ano, quando nós analisarmos as contas desta prefeitura. 

É uma questão de gestão, saber se tem dinheiro ou não.

Exatamente. É mais ou menos como a gestão que a gente faz na nossa casa, no nosso dia a dia, se nosso orçamento está apertado a gente tem que fazer escolhas e vão ser feitas pelo o que é essencial pagar, não pelo que é supérfluo.

Lages, pelo que a gente tem observado, não está numa situação delicada, as contas estão em dia e a prefeitura tem dado, como justificativa, e não só neste ano, também em anos anteriores, a recomendação do Ministério Público de Contas, mas ficou claro no documento pelo que a senhora falou que essa é uma recomendação, mas a decisão é do gestor.

A decisão é do gestor. Ele tem que avaliar as suas contas e identificar se existe ou não a possibilidade de fazer esse pagamento. E, se fizer, tem que nos informar que tipo de despesa está sendo realizada, quanto está sendo gasto e isso tudo vai ser analisado quando a gente apreciar as contas anuais da prefeitura. Se faltou o dinheiro em uma área, vai ser cobrado no final.

Algum município Catarinense já teve problemas com a prestação de contas por destinar dinheiro para o Carnaval?

A maioria dos municípios catarinenses não tem mais feito despesas com Carnaval, entende que é o tipo de despesa que as próprias entidades podem se organizar durante o ano para arrecadar. Existem outras maneiras de captar recursos, que não públicos, nesse tipo de evento. Alguns municípios ainda realizam, mas têm sido valores pequenos, se comparado ao orçamento daquele município. Até agora, não representaram esse tipo de problema, mas é analisado ‘ano a ano’ e esse quadro pode mudar.

Em relação a outros eventos como em Lages a Festa do Pinhão, há algum tipo de recomendação ou ela é restrita ao Carnaval?

Nós temos feito, paulatinamente, essa recomendação ao Carnaval para uma grande quantidade de municípios, porque a gente sabe que é a festividade corrente e faz parte do calendário, não só em Santa Catarina, como no Brasil, mas é claro que podemos, e já fizemos, recomendações com relação a eventos pontuais, como por exemplo, religiosos que entendemos que o Estado não teria que patrocinar e investir dinheiro.

No passado, houve algumas recomendações ligadas a essa seara, mas é claro que existem festividades que incrementam, de forma considerável, o turismo na região, por exemplo, festa tradicional, que a gente sabe que movimenta o turismo, e a economia cresce consideravelmente, com aquele evento. São decisões que o gestor tem que adotar e toda decisão deve ser devidamente justificada, caso surja algum questionamento em relação às contas do município, vai ter que nos mostrar o que realmente foi feito, que investimento trouxe um retorno para o município, isso é o mais importante.

 

 

 

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