Geral
Entrevista com o comandante-geral da PM em SC, Coronel Carlos Alberto
Comandante-Geral da Polícia Militar de Santa Catarina, Carlos Alberto de Araújo Gomes Júnior foi promovido à Coronel, o último posto da carreira dos oficiais de Polícia Militar, em janeiro de 2016.
Desde o início da carreira militar, desempenhou missões oficiais no Governo Federal, junto aos Ministérios da Justiça e da Integração Nacional; e nos Estados do Rio de Janeiro e no Pará, é atuante pesquisador dos temas relacionados à segurança pública e à defesa civil, especialmente dos Sistemas de Comando em Operações e Desastres Naturais, tendo participado da comitiva brasileira que definiu a Estratégia Internacional de Redução de Desastres (Marco de Hyogo), no Fórum Mundial da ONU, no Japão; e atua como pesquisador no Centro Universitário de Estudos sobre Desastres, da UFSC. Ao Correio Lageano, ele falou sobre a redução da criminalidade em Santa Catarina e as operações do efetivo.
Correio Lageano: Como o senhor vê o esforço das forças de segurança para combater o crime em Santa Catarina?
Coronel Araújo Gomes: As unidades na Serra Catarinense têm uma longa tradição de eficiência no combate aos crimes, tanto que os indicadores da região são considerados acima da média em termos positivos. Estão entre os menores do Estado.
As novas estratégias que vêm sendo adotadas, como a mobilização das forças regionais, concentrando onde as estatísticas demonstram que há os piores índices, estão surtindo efeito?
Nesse período temos operações em desenvolvimento no interior, ações específicas concentrando tropas de várias unidade em pequenos municípios mostrando que esta estratégia vem sendo implementada e tem dado resultado.
Neste processo, a participação da PM é apenas na repressão ao crime, ou também na prevenção? E de que forma?
Nós temos resumido isso em dois conceitos: o primeiro, fazendo rondas e estando prontos a responder rapidamente às demandas, aos incidentes e até mesmo antecipá-los com base em trabalhos de inteligência, de análise criminal, fazendo que a população tenha à disposição um serviço de pronta-resposta eficiente, fazendo com que o bandido fique com medo de cometer o crime devido à grande probabilidade de ser pego. E, segundo, estando presente e protegendo, para que a população perceba e entenda nossa presença como protetora. Neste sentido, as grandes operações de visibilidade e ações preventivas com barreiras e saturação de policiamento têm sido feitas. Elas têm um duplo efeito, pois ao mesmo tempo reduzem o medo da vitimização e aumentam a confiança na polícia que é um fator de qualidade de vida que aqui é muito presente.
Exemplo disso é a Operação Ferrolho?
É um exemplo, sim. Trancamos todo o perímetro do Estado. Somos o único Estado capaz de fazer isso. Foram mapeadas todas as divisas e fronteiras, 282 pontos, mais os aeroportos internacionais e todas as rodoviárias de cidades acima de 100 mil habitantes; e 25 pontos de rodovias estaduais fazendo com que se deslocar por Santa Catarina fosse algo controlado.
O efetivo da PM ganhou um grande reforço, mas muitos praças estão se aposentando. Novos concursos serão realizados?
Novos concursos é uma demanda constante. Nosso efetivo está aquém daquele que seria necessário, embora nos últimos cinco anos tenhamos tido maior movimento de inclusão de policiais em toda a história da polícia. Se por um lado não aumentamos o nosso efetivo porque muitos saíram, pois atingiram a idade de se aposentar, é verdade que, por outro lado, trouxemos grandes melhorias para o serviço. Temos uma tropa mais jovem, mais motivada, mais capacitada. São policiais que entram com nível superior e isso se reflete na qualidade do serviço. Uma maneira de lidar conceitualmente com essa falta de efetivo é trabalhar fortemente com as grande mobilizações regionais. Não é todo o efetivo que é necessário o tempo todo em todos os lugares. Estamos mapeando com nossos sistemas informatizados de acompanhamento das ocorrências e fazemos grande movimento de tropas, levando mais tropas para onde é mais necessária.
Os policiais terão câmeras nos uniformes. De que forma esse equipamento será útil?
Um projeto em larga escala que vai tornar, de novo, a polícia catarinense e a Segurança Pública de Santa Catarina uma referência nacional e internacional. Fechamos parceria com o Poder Judiciário, através do Tribunal de Justiça, que vai repassar recursos para isso. A parceria será oficializada no dia 4 de maio e os recursos serão suficientes para comprar, aproximadamente, 1.800 câmeras. Hoje, a polícia coloca entre 600 e 800 patrulhas por turno nas ruas. Teremos todas as patrulhas com pelo menos um policial equipado com câmera no seu uniforme, filmando as interações com o cidadão. Não temos a menor dúvidas que vai melhorar em dois aspectos decisivos e fundamentais. Primeiro melhorar a qualidade da prova, principalmente nas prisões em flagrante. Fazendo com a gente não só prenda, mas mantenha preso o criminoso que pegarmos. E, segundo, defender o policial de possíveis acusações, o que é bem frequente. Mentirosos, enroladores e abusadores de confiança do poder público estarão em maus lençóis, porque a relação estará sendo filmada. Claro que vamos surpreender algum mau policial, mas é isso que queremos também. Temos a certeza que acertamos infinitamente mais do que erramos.
Lages registrou queda em vários tipos de crimes. Essa é uma tendência estadual ou algo localizado?
Desde que mudamos a estratégia, temos tido uma queda acentuada dos ìndices de criminalidade em todo o Estado, mas ainda é cedo para dizer se é uma tendência ou um janela de sucesso das novas estratégia. Com certeza, a melhoria foi sensível. Reduziu 20% os homicídios no Estado inteiro, as mortes violentas; reduziu os roubos em 30% e também os furtos em alguns locais, onde o problema era mais graves, como Florianópolis e Joinville. Roubos, furtos e mortes violentas diminuíram em 50%, mostrando que nesses últimos 60 dias as estratégias tiveram impacto significativo sobre os indicadores de criminalidade e violência.
E a Operação Inverno? Como está sendo planejada pela Polícia Militar? Temos uma Festa do Pinhão pela frente.
A Operação Inverno, ano passado, foi uma inovação desta região. Vamos repetir a dose e, provavelmente, ampliar, dependendo dos recursos financeiros. Acredito que é um dever de justiça que a operação inverno adquira, aos poucos, status semelhante à Operação Veraneio. Afinal, também torna nosso estado uma referência de turismo, atrai recursos, divisas e atenção nacional, e também tem uma complexidade em termos de segurança por atrair um público supersensível e formador de opinião.