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Doença aumenta quase 10% em um ano

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Camisinha é uma das formas de prevenir a sífilis - Foto: Susana Küster

Apesar de ser uma doença antiga e de tratamento eficaz, os casos de sífilis vêm aumentando nos últimos anos em todo o mundo, no Brasil e também em Santa Catarina, segundo informações da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive). Na Serra Catarinense, a situação não é diferente.

Somente em um ano, os casos aumentaram quase 10% na região, segundo informações da Regional de Saúde. A quantidade de bebês que nasceram com sífilis também aumentou, em um ano, o percentual cresceu 41,8% nos municípios que compõem a Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures). Situação que poderia ser evitada, se na gravidez, a doença fosse detectada e tratada.

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e sua principal forma de contágio é por meio da relação sexual sem uso de preservativo, inclusive por sexo oral. Outra forma importante de contágio é a da mãe infectada para o bebê, durante a gravidez e, o parto. Apesar de rara nos dias de hoje, pode ocorrer também transmissão por meio da transfusão de sangue contaminado.

Inicialmente, a sífilis se manifesta como uma ferida nos órgãos genitais e ínguas nas virilhas, que desaparecem espontaneamente e podem passar despercebidas. Após alguns meses, surgem manchas no corpo e queda de cabelo que também cessam sem tratamento.

Nessas fases, a sífilis é altamente contagiosa e a pessoa continua doente e transmitindo a doença, mesmo aparentando melhora. Quando não há tratamento adequado, a doença fica estacionada por meses ou anos, até surgirem complicações mais graves como cegueira, paralisia, doenças cardíaca e cerebral que podem tanto deixar sequelas importantes como levar à morte.

Diagnóstico

A sífilis pode ser confirmada através de um exame de sangue simples. Mesmo se a pessoa não apresentar nenhum sintoma e tiver se infectado há muito tempo, ainda assim é possível descobrir e realizar o tratamento adequado.

Todas as pessoas sexualmente ativas devem realizar o teste para sífilis e o exame é obrigatório nas gestantes no início, no final da gestação e durante a internação para o parto. A implantação do Teste Rápido da Sífilis nos últimos anos tem facilitado e agilizado o diagnóstico. Além disso, evitado o surgimento dos sintomas mais graves.

Os testes rápidos são práticos, de fácil execução e são disponibilizados pelo SUS. Podem ser feitos com apenas uma gota de sangue (punção digital) e o resultado sai, no máximo, em 30 minutos.

Tratamento

A sífilis tem tratamento e, se realizado corretamente, leva à cura da doença. O tratamento é realizado com antibióticos indicados por um profissional de saúde. O principal antibiótico utilizado é a Penicilina Benzatina, conhecida como Benzetacil. Outros antibióticos possíveis de serem utilizados são Doxiciclina e Ceftriaxona.

Na gestante, a Penicilina é o único antibiótico indicado, uma vez que é capaz de tratar e curar o bebê, prevenindo assim a sífilis congênita, que é a doença no bebê, transmitida durante a gravidez.

Aumento tem ocorrido ao longo dos anos

O Brasil vive um período de aumento dos casos de sífilis nos últimos anos. Após 2010, quando a sífilis adquirida teve sua notificação compulsória implantada, a taxa de detecção aumentou de dois casos por 100 mil habitantes em 2010 para 42,5 casos por 100 mil habitantes em 2016. A estimativa da Organização Mundial da Saúde é que 937 mil pessoas sejam infectadas a cada ano no país.

Em Santa Catarina, em 2016, a taxa de detecção de sífilis adquirida (77,8 casos por 100 mil habitantes) foi superior à média nacional (42,5 casos por 100 mil habitantes) e o estado ocupou a terceira colocação no ranking com as maiores taxas de detecção (atrás dos estados do Rio Grande do Sul e Espírito Santo). 

Como houve tendência de aumento no número de casos notificados, em 2017, a taxa de detecção de sífilis adquirida atingiu 156,2 casos por 100 mil habitantes, de gestantes com sífilis alcançou 17,3 casos por 1.000 nascidos vivos e de sífilis congênita 7,2 casos por 1.000 nascidos vivos.

No período compreendido entre 2010 e março de 2018 foram notificados, no estado, 37.205 casos de sífilis adquirida. Destes 59,5% ocorreram em homens e 49,6% em indivíduos de 20 a 34 anos.

No mesmo período, 6.967 gestantes foram diagnosticadas com sífilis (notificadas separadamente), ocorreram 2.661 casos de sífilis congênita (transmissão da doença da mãe para o bebê), o que ocasionou 85 abortos e 122 natimortos. A sífilis congênita é ainda mais preocupante, considerando que a criança pode nascer livre da sífilis se houver o tratamento adequado da gestante infectada.

Fonte: Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina

Números de sífilis na Serra Catarinense: 2017 – 2018 – 2019

Em gestantes: 119 – 197 – 138

Em bebês (congênita): 78 – 110 – 156

Em homens e mulheres: 501 – 484 – 532

Fonte: Regional de Saúde

Sífilis em Santa Catarina 

37.205 casos

6.967 gestantes

85 abortos 

122 natimortos

*de 2010 a março de 2018

** Fonte: Dive/SC

Brasil registrou 158 mil casos

O aumento de casos de sífilis no Brasil gera preocupação entre médicos e gestores. Segundo boletim do Ministério de Saúde , em 2018, foram notificados 158.051 casos de sífilis adquirida (transmitida de uma pessoa para a outra durante a relação sexual), representando um aumento de 28,3% em relação a 2017, quando 119.800 casos foram notificados. Uma das infecções sexualmente transmissíveis (IST) mais comuns globalmente, o aumento no número de casos aponta para a consolidação de um cenário de epidemia.

Dos novos casos, 53,5% ocorreram na Região Sudeste. Entre os estados, a maior taxa de detecção foi em Santa Catarina – 164,1 casos por 100 mil habitantes. Outros cinco apresentam taxa maior do que a média nacional, incluindo o Rio de Janeiro, com 90,5 casos por 100 mil habitantes.

Para a médica Ruth Khalili, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/ Fiocruz ), o aumento do número de casos de sífilis está relacionado ao atual contexto social. Segundo ela, há pouca preocupação entre os jovens em relação às doenças sexualmente transmissíveis, além de relativo desconhecimento sobre essas doenças.

— O caso dos adolescentes e dos jovens adultos chama muita atenção pela negação da informação. A gente sabe conversar (no consultório) para usar camisinha não funciona, entra por um ouvido e sai por outro — diz a médica.

Gestantes e recém-nascidos

Segundo dados do Ministério da Saúde, 62.599 casos de sífilis em gestantes foram notificados em 2018. O número representa um crescimento de 25,7% em relação a 2017, quando 49.013 casos foram registrados.

No Mundo

Segundo a Organização Mundial dea Saúde (OMS) no período de 2003 a 2017, verificou-se incremento da taxa de incidência de sífilis congênita de 1,7 para 8,6 casos por 1.000 nascidos vivos. Destaca-se que de 2005 a 2017, a taxa de detecção em gestantes passou de 0,5 para 17,2 casos por 1.000 nascidos vivos, enquanto a taxa de detecção de sífilis adquirida passou de 2,0 para 58,1 casos por 100 mil habitantes de 2010 a 2017.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou mais de meio milhão de casos de sífilis congênita no mundo (aproximadamente 661 mil), resultando em mais de 200 mil natimortos e mortes neonatais. A sífilis congênita é a segunda principal causa de morte fetal evitável em todo o mundo, precedida apenas pela malária.

É crucial que as mulheres realizem exame de diagnóstico e tratamento precocemente como parte dos cuidados pré-natais para uma experiência positiva de gravidez.

Dados do Ministério da Saúde (MS) publicados em 2018, apontaram aumento no número de casos da doença em TODOS os cenários da infecção:

  • Aumento de 28,5% na taxa de detecção em gestantes;
  • Aumento de 16,4% na incidência de sífilis congênita;
  • Aumento de 31,8% na incidência de sífilis adquirida.
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