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Cerca de 500 imóveis são avariados com a chuva
Quase 40 bairros afetados e aproximadamente 500 imóveis com avarias foi o resultado dos 50 milímetros de chuva que caíram em Lages por cerca de uma hora, no início da noite de domingo (10). De acordo com a Defesa Civil do município, na hora do temporal o vento chegou a 70 km/h e o Rio Carahá subiu 3,14 metros.
A manhã de segunda-feira (11) foi de muito trabalho, tanto para os moradores quanto para o poder público, especialmente porque, quando a água baixou, muitas vias ficaram com uma camada espessa de barro. Temendo que a ajuda da prefeitura pudesse demorar para chegar, logo cedo os moradores da Rua Luiz Floriani Sobrinho, no Bairro Beatriz, começaram por conta própria a limpeza da via.
“Dessa vez não entrou água nas nossas casas, mas mesmo quando a água só alaga a rua, dá muito transtorno pra todos os vizinhos”, afirma a dona de casa Débora Branco Rosa da Silva. Ela conta que a Defesa Civil esteve no local e informou que uma equipe passaria para fazer a limpeza da rua.
“Mas nós entendemos que tem bastante gente pra ser atendida e preferimos não ficar esperando. Se não limpar, não tem nem como entrar na casa da gente, porque tudo acaba indo pro nosso terreno, levamos pra dentro do pátio com o carro ou com os pés”, comenta.
O servidor público Coryguaçu Bueno é vizinho de Débora e também estava ajudando a limpar a rua. “Eu estava viajando e quando cheguei ontem, às 10 da noite, a água tinha baixado, mas essa lâmina de barro já estava em toda a rua”, lembra.
Segundo eles, quando o córrego que passa atrás de suas casas enche e transborda, o alagamento é inevitável. “Os bueiros trancam por causa da sujeira e da quantidade de lixo, daí a água não tem por onde escoar”, completa Débora.
A família de Ciméia dos Santos Corrêa vive no Beatriz há mais de quatro décadas. A casa tem dois pavimentos, um deles é o porão, onde Ciméia mora. Alagamentos não são tão raros para a família, que, ao menor sinal de chuva forte, corre erguer os móveis e eletrodomésticos.
“Mas no domingo a água subiu muito rápido e nem deu tempo de pensar. Só consegui erguer a geladeira e as coisas mais caras, o resto ficou tudo debaixo d’água”. Diferentemente de outros alagamentos, desta vez, a água que invadiu a casa não escoou e Ciméia precisou encontrar uma bomba para sugar a água de dentro do imóvel. “É a terceira vez que perco uma mudança inteira”, lamenta, em meio às lágrimas.
Desmoronamentos e desabamentos
Além dos alagamentos, a Defesa Civil de Lages também atendeu a diversos chamados por desmoronamentos entre domingo a noite e ao longo da segunda-feira. Moradora do Bairro São Pedro, a dona de casa Marlene Klein Barros, ouviu um estrondo no seu quintal, logo depois que a chuva começou, e abriu a porta dos fundos para verificar o que estava acontecendo. “Nem me dei conta do que podia ser. Quando abri, a água já invadiu toda a casa e veio com tanta força, que eu nem consegui mais fechar a porta”, lamenta.
O saldo da enxurrada foi a queda do muro da área, nos fundos da casa. Devido a força da água, os restos de tijolos e barro foram levados para perto do imóvel. “A água chegou a bater ali [fala apontando para uma marca de aproximadamente 40 centímetros de altura na parede]. Nunca tinha acontecido isso. Fiquei muito assustada.”
A família do servente Ricardo dos Santos também levou um grande susto, pois, na hora da chuva, o teto e parte do piso da área da frente da casa onde eles moravam acabaram desabando.
“Já tinha uma erosão na terra na frente de casa, mas como foi muita chuva, a estrutura não aguentou e cedeu. Foi um susto muito grande”, conta. Ainda na manhã de segunda-feira Ricardo fez a mudança de sua família do Bairro Santa Clara (onde aconteceu o desabamento) para o Santa Helena. Devido aos riscos, a Defesa Civil interditou o local.
Lixo potencializa as enchentes
Os moradores do cruzamento entre as ruas Hermes da Fonseca e Mario Vieira da Costa, no Bairro Sagrado Coração de Jesus, também foram bastante afetados pela chuva. Quem trafegava pelo bairro na segunda-feira pela manhã, se deparava com uma boa parte dos vizinhos limpando os estragos em suas casas.
Segundo os moradores, os alagamentos têm se tornado uma constante há cerca de seis anos. “Minha família vive aqui há mais de 50 anos e só nos últimos anos a gente tem sofrido desse jeito. Já deixo a geladeira e a máquina de lavar em cima de tijolos o ano todo, porque é o único jeito de não estragar”, conta a dona de casa Sônia Sousa Wolff. Em sua casa, os móveis ficaram bastante danificados, especialmente os armários de cozinha e roupeiros, e a as bases das camas box.
O imóvel da confeiteira Daniele Savaris Cristofolini foi um dos mais prejudicados com essa enxurrada. A água ficou represada em um terreno vizinho, pressionando o muro, que se partiu, provocando inundação na sua garagem, área de serviço, porão e em uma parte do pátio.
“A enxurrada trouxe muito lixo pro meu terreno. Tirei mais de 20 sacos de lixo, com garrafas pet, litros de uísque e garrafões de vinho, além de madeira e sacos plásticos. Tinha até um pallet que não faço ideia de onde veio.”
A costureira Geruza Pereira estava saindo do supermercado quando a forte chuva começou e, ao chegar em casa, mal teve tempo de erguer os móveis. No pátio onde está sua casa, há outros dois imóveis. Segundo ela, nos fundos do terreno os moradores já fizeram uma espécie de bueiro, para escoar águas da chuva.
“Mas não é o suficiente porque os bueiros da rua estão entupidos e não escoam a água que vai pra fora”, comenta, lembrando que a pior situação que vivenciou foi em 2017, quando Lages foi acometida por uma enchente. “Desde aquela vez minha casa ficou com uma rachadura em uma das paredes. Tenho medo que essa parede caia.”
O almoxarife Eleomar Hanzen também sofreu muitas avarias em seu imóvel. “Sempre que tem uma chuva mais forte, nossa rua alaga. É muito triste porque a gente cuida da nossa casa com muito carinho, daí acontece uma coisa dessas e a gente perde tudo. Todo mundo sofreu com o que aconteceu”, lamenta. Eleomar acredita que, se os bueiros da rua não estivessem entupidos com sujeira, lixo e mato, a água escoaria com mais facilidade.
Ceron decreta situação de emergência
De acordo com o secretário executivo de Proteção e Defesa Civil de Lages, Jean Felipe Silva de Souza, a chuva de domingo foi uma das mais fortes das últimas semanas, com um volume muito grande para um tempo relativamente pequeno.
“Registramos deslizamentos em variadas áreas, com a interdição de pelo menos uma residência. Desde a noite de domingo nossa equipe está atuando, fazendo resgates e encaminhando lonas para quem precisou”.
Além do atendimento da Defesa Civil, durante toda a segunda-feira equipes das secretarias de Obras e do Meio Ambiente fizeram a limpeza de diversas vias da cidade, que ficaram com lâmina de barro após a água baixar.
O órgão informou que, até o fim da tarde de segunda-feira, não havia nenhuma família desabrigada. Segundo Jean, o Conselho Municipal de Defesa Civil decidiu decretar situação de emergência e, no fim da tarde, o prefeito Antonio Ceron assinou o decreto.