Geral
Célia temia o pior
Atualização 19h47 (4/10)
Como todos os dias, Célia de Oliveira, de 44 anos, acordou e se arrumou para ir trabalhar. Às 6h25 entrou no ônibus da Transul, na linha Bairro Penha ao Centro de Lages. Até então, tudo certo. O motorista do ônibus, Jaine Lehmann Largura, de 42 anos, comentou que a passageira subiu, o cumprimentou e passou a catraca. Dez minutos depois, mesmo estando com a linha atrasada, o motorista parou o ônibus para um passageiro que vinha de encontro com o veículo.
Claudecir Kuster Soares entrou no ônibus no ponto próximo ao supermercado Poko Preço. “Ele era passageiro conhecido e é comum as pessoas fazerem isso de virem correndo. Eu estava atrasado, se soubesse, nem tinha parado”, comenta o motorista.
Claudecir entrou e a viagem seguiu. Ao passar o viaduto da Penha e parar no ponto de ônibus, Jaine ouviu gritos dos passageiros pedindo para abrir as portas e, na hora, não conseguiu assimilar barulho de tiro, pensou apenas em abrir as portas e deixar as pessoas saírem. O motorista fala que o intervalo entre a entrada do homem no ônibus até o grito das pessoas, levou de três a quatro minutos.
Claudecir atirou contra Célia três vezes e, depois, deu um tiro na cabeça. Na hora, caiu no chão e ela desceu do ônibus. O motorista detalha que ela saiu, se escorou na frente do ônibus e sentou na calçada pedindo para que chamassem o Samu. Célia foi atingida com dois tiros na barriga e um no ombro. O tiro que Claudecir disparou contra si atravessou a cabeça. Os dois foram socorridos e encaminhados à emergência do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages.
Estado de saúde
Por volta das 11 horas, Célia já estava na sala de recuperação e fora de perigo. Uma familiar comenta que os cuidados são direcionados aos órgãos da vítima, afinal, dois disparos atingiram a barriga. Claudecir, precisou ser entubado e, até então, aguardava um leito na Unidade de Terapia Intensiva.
No fim da tarde, Célia já estava no quarto e medicada. A mãe dela, Zélia de Oliveira, conta que sua filha está bastante anestesiada, se comunicando pouco devido às medicações. Ao sair do quarto, a mãe relata que a filha parecia estar abalada, querendo chorar e sinalizou não estar bem.
Célia deve passar por novos exames nesta sexta (5), e os médicos não falaram em riscos para a vítima. Na próxima terça (9), ela também passará por uma cirurgia no braço.
História
Célia foi a primeira namorada de Claudecir. Os dois casaram e tiveram dois filhos, hoje com 15 e 22 anos. O casal ficou junto por 17 anos. Há mais de cinco anos Célia e Claudecir estão separados. Neste tempo, a família relata diversos episódios de agressão do homem com a mulher. Ela já fez diversos registros na Polícia Civil, um dos primeiros em 2011, e o mais recente foi no dia 12 de setembro deste ano em que Célia afirma que Claudecir a ameaça de morte. O homem já foi preso inclusive por descumprimento de medida protetiva.
Um dos irmãos dele relata que desde a separação, Claudecir vinha tomando remédio para depressão e sempre falou que queria voltar para Célia, apesar de já se envolver com outra mulher. Há três meses, Célia, assumiu um relacionamento, o que teria revoltado Claudecir. Na sexta-feira, ele teria pedido demissão da madeireira onde trabalhava e, nesta quarta-feira, teria visitado os familiares, mas, segundo o irmão, não falou nada de morte e nem se despediu. A filha do casal alegou que quando o pai ingeria bebida alcoólica mudava de comportamento, mas acredita que nesta manhã não havia bebido.
Dona Laudelina, de 82 anos, mãe de seis filhos, quatro homens e duas mulheres, relata que a filha foi ameaçada por diversas vezes pelo ex-marido. Preocupada, e sem notícias, a idosa escutava a Rádio Clube para ter mais informações da filha.
Polícia Civil
Claudecir ficará sob custódia do Departamento de Administração Prisional e, mesmo no hospital, receberá o auto de prisão em flagrante por tentativa de feminicídio. O delegado Rochell Amaral da Silva explica que algumas testemunhas já foram ouvidas, mas que os policiais trabalham rapidamente para apurar todos os fatos. O Instituto Geral de Perícias esteve no local.
O delegado explica que Célia tinha uma medida protetiva vencida, e que agora tentava renová-la.