Segurança
#CLentrevista Comandante Zelindro Ismael Farias
Comandante da 2ª Região de Polícia Militar de Santa Catarina
Correio Lageano: Gostaria que o senhor explicasse o que é a 2ª Região de Polícia Militar.
Coronel Zelindro Ismael Farias: A 2ª Região de Polícia Militar (RPM) é compreendida por 39 municípios da Serra Catarinense. Temos o 6º Batalhão de Polícia Militar, com abrangência em 22 municípios da região. A Guarnição Especial de Curitibanos e Mafra, e o 3º Batalhão de Polícia Militar sediado em Canoinhas; uma companhia isolada em Mafra, outra em Bom Retiro. Além disso, temos um esquadrão de polícia montada, um grupamento aéreo e dois canis dentro da região. Com efetivos em torno de 850 Policiais Militares.
Como o senhor avalia a segurança na região atendida pela 2ª RPM?
Temos em torno de 634 mil habitantes nesses 39 municípios atendidos pela 2ª RPM. Dentro dos nossos indicadores de segurança, a 2ª Região tem prestado um bom serviço à comunidade, nossos indicadores, que foram avaliados recentemente, vêm baixando em relação ao mesmo período de 2018 e 2019. Alguns indicadores nos preocupam um pouco mais, em função da letalidade, da violência e alguns crimes como o roubo, o feminicídio, o homicídio. São crimes que impactam de uma forma muito grande na sensação de segurança da comunidade.
Aqui na nossa região temos um histórico preocupante de feminicídios. Há alguma ação específica na 2ª RPM para combater esse tipo de crime?
Sim. Esse é um dos carros chefes hoje, na 2ª RPM. Desenvolvemos algumas atividades, temos a Patrulha Maria da Penha, atuante em toda 2ª Região. Além disso, no ano passado nós lançamos um convênio junto à Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o Programa de Educação e Extensão de Direitos Humanos das Mulheres. Realizamos dois cursos a distância para os operadores da rede de enfrentamento à violência, ou seja, Judiciário, Poder Público, a própria Secretaria de Políticas para Mulher (SMPM), aqui em Lages, e todos os nossos parceiros que fazem parte dessa rede. Também tivemos um terceiro curso presencial, por meio do qual a Secretaria das Mulheres fez a seleção de algumas mulheres que eram vítimas de violência. Realizamos em parceria com o Sest/Senat, que nos cedeu o espaço. Fizemos um curso de empreendedorismo feminino, para romper esse ciclo de violência que, muitas vezes, as mulheres se sujeitam em função de não possuírem renda. Porque não basta ter um ciclo de enfrentamento, repreensão; se não conseguimos fazer com que essa mulher possa romper o ciclo. Para isso, é necessário que ela tenha uma condição de subsistência. Muitas vezes, essa mulher que é vítima de violência tem uma medida protetiva expedida pela justiça, acaba cedendo ao assédio por parte do parceiro, porque não tem condições de colocar comida da mesa, não tem como prover seus filhos, por não ter uma formação. Sendo assim, nós procuramos, através desse curso, formar mulheres. Para mim, considero que foi um sucesso. Ainda que tivéssemos conseguido formar uma única delas, já seria um sucesso. Pretendemos continuar fazendo novas edições.
Ou seja, é atuar numa área muito maior do que a de segurança, não é?
A segurança pública é uma atividade um tanto quanto complexa. Entrega, além das ações de repreensão, que é aquilo que fica à vista da sociedade, mas também trabalhamos com ações preventivas, educativas em uma sociedade. Inclusive, essa temática da violência contra as mulheres, faz parte do projeto de doutorado que estou fazendo.
Qual é o efetivo que a 2ª RPM conta atualmente? É suficiente para atuar nessa região e existe um planejamento de ampliação?
E toda a região temos em torno de 850 efetivos, dependendo das férias, licenças especiais ou afastamento. Claro que se faz necessária a ampliação de efetivos em toda a região. O comando-geral da Polícia Militar, através do seu Estado maior, vem buscando alternativas no sentido de ampliarmos esse nosso efetivo. Foi feito recentemente um concurso, e houve a inclusão de mil Policiais Militares, que serão distribuídos dentre todo o Estado de Santa Catarina, e a 2ª Região irá receber efetivo, de acordo com a necessidade da nossa região, na forma equitativa de distribuição para os mapas, e indicadores de violência. Óbviamente, que as atividades de segurança pública são um dever do Estado, mas também o cidadão precisa fazer sua parte. Por isso, buscamos, através de ações educativas, mudar o comportamento da sociedade, como por exemplo, alguns indicadores no caso de furto, estão diretamente ligados à questão cultural. Você acaba vendo, muitas vezes, pessoas que, por inocência ou talvez por falta de vivência, vão ao supermercado e deixam sua bolsa no carrinho, ou que deixam seu carro aberto e acabam sendo furtadas. Pessoas que cercam sua casa com sistema de segurança, ou condomínios, mas não têm cuidado de fechar a porta de entrada. O que também passa a questão de segurança, para uma mudança de comportamento social, pois as pessoas precisam fazer o seu papel, porque a polícia não é capaz de estar presente em todos os locais ou momentos. Obviamente que, de acordo com as nossas manchas criminais, nossos indicadores de violência, nós fazemos um planejamento para otimizar e fazer a redução desses indicadores.
As cidades do interior têm um efetivo bem reduzido. Em algumas cidades, apenas um policial atua, sozinho. Essas cidades estão se tornando alvos de quadrilhas. Há um planejamento para contornar essa situação?
Nós temos uma operação desenvolvida apenas aqui na 2ª Região, que se chama Operação Raiden que são Rondas Ostensivas de Apoio a Unidades Estatarias. Sendo assim, temos uma estratégia, de acordo com nossos indicadores de violências, horários, dias da semana, que têm maior incidência de determinados crimes. Montamos guarnições reforçadas, que circulam dentro dessas áreas e apoiam esses destacamentos. Lá, fazem operações policiais, e desenvolvem uma série de ações. Além disso, temos outra estratégia que foi desenvolvida pelo 6º Batalhão da Polícia Militar, no sentido de realizar o adensamento das unidades, de acordo com as necessidades, fazemos a movimentação do efetivo de um destacamento para o outro, e fazemos a patrulha naquela outra cidade, onde o estancamento foi recorrido momentaneamente. Isso até que a gente consiga suprir a questão de efetivo. É importante dizer que existe um esforço do Governo do Estado e da própria Polícia Militar no sentido de ampliar o efetivo. Porém, enfrentamos alguns problemas com as pessoas que participam dos concursos, acabam entrando com ações judiciais contra o certame, e isso acaba emperrando a entrada do efetivo, e traz um prejuízo à sociedade como um todo.
Colaborou: Jordana Boscato