Recém-formado em medicina, em 2010 o peruano Arturo Alejandro Dreifuss Serrano, hoje com 32 anos, mudou-se para o Brasil. O que o trouxe para as terras tupiniquins não foi a profissão, mas o coração, pois a mudança de país aconteceu para acompanhar a esposa, uma brasileira que ele conheceu nos tempos de faculdade.
No novo país, Arturo revalidou seu diploma para atuar profissionalmente e complementou os estudos: fez mestrado em Farmacologia e residência em Cirurgia Geral. Ao chegar no Brasil, a primeira coisa que lhe saltou aos olhos foi a prestação de serviços de saúde pública, pois no Peru não são gratuitos como por aqui.
“O brasileiro reclama de barriga cheia, pelo simples fato de desconhecer a realidade fora daqui. Eu acho o SUS maravilhoso e encho a boca pra falar isso. Digo, com todas as letras, que o SUS é um sistema de saúde fantástico. Eu, sinceramente, gostaria muito que o meu povo tivesse algo parecido, que tivesse o que vocês [brasileiros], às vezes, menosprezam”, garante.
A contundente afirmação vem da boca de um profissional que teve, ao longo de sua vida, contato com outros sistemas de saúde na América Latina e em outros continentes. Além do funcionamento em sua terra natal, ele conhece o sistema dos Estados Unidos (o qual diz ser péssimo) e da Europa (que considera muito bom). Aqui no Brasil, ele trabalhou em cidades do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Em Lages, está há dois anos e meio.
“Com base nas minhas experiências, eu digo que o sistema do Brasil é um dos melhores que eu tenho encontrado, especificamente porque ele elimina custos pontuais para os pacientes no momento do atendimento. Quando eu cheguei aqui [no Brasil] isso foi um choque muito grande”.
A maior queixa dos usuários do SUS é o fato de terem que entrar em filas de espera, seja nos pronto atendimentos para consultar com especialistas ou para fazer determinados exames. “No meu país, além de toda a espera que se tem aqui, as pessoas ainda precisam pagar para qualquer coisa que fazerem”, lembra Arturo.
O médico reforça que, em muitos casos, a falha no sistema se dá porque o usuário não sabe como utilizá-lo (falta de conhecimento), e também por causa daqueles que têm más intenções, como quem quer furar fila ou pegar atestado sem precisar. Além disso, ele cita a má gestão como principal fator para que o sistema tenha graves problemas.
“Com frequência, infelizmente, vejo que os grandes problemas do SUS acontecem por causa de má gestão, de políticos envolvidos, de más políticas nas secretarias, nas prefeituras. Não estou falando necessariamente de Lages, mas muitas vezes os problemas de gestão não são somente dos políticos, mas nós da classe médica somos cúmplices de corrupções abomináveis, que nós promovemos por causa de nossa ganância pessoal”, avalia, ressaltando que tanto a má gestão, quanto às dificuldades financeiras e o “jeitinho” dos pacientes são originados em um mal comum às Américas: a corrupção.