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Carnaval lageano é tradição

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Fotos: Museu Histórico Thiago de Castro

O carnaval em Lages é histórico. Quem tira um tempo para visitar o acervo fotográfico do Museu Histórico Thiago de Castro, percebe que as festas nas ruas e clubes eram grandes e aparentemente, muito animadas. A dedicação era grande para, em grupos, pular e dançar pelas ruas da cidade, durante as celebrações que duravam dias e movimentavam a comunidade.

O historiador Lenilson Maia explica que as primeiras festividades começaram no final do século 19 e início do século 20. As festas se dividam em religiosas e sem motivos religiosos, apenas para diversão do povo.

De acordo com a pesquisa, o Carnaval era popularmente chamado de “Entrudo” ou “Jogo do Entrudo”. Nesse tipo de festa, as pessoas se reuniam nas ruas e jogavam água com limão para molhar as pessoas. No meio urbano, recolhiam água da Cacimba (fonte de água potável localizada na Rua Carlos Jofre do Amaral, no Centro de Lages) para jogar umas nas outras.

Em 14 de janeiro de 1900, o tenente Ernesto Augusto Neves, comissário de Polícia de Lages, proibiu os habitantes a esta prática, alegando que a brincadeira era nociva à saúde e qualquer pessoa que descumprisse a lei, receberia multa de vinte mil réis.

O jogo do Entrudo era realizado por populares, principalmente pelos mais pobres. As famílias mais abastadas não participavam da brincadeira, que tinha como objetivo ver os corpos das pessoas através da roupa molhada. Era uma festa que possibilitava a quebra da moral patriarcal.

Os primeiros grupos carnavalescos a surgirem em Lages foram os rivais Cravo Preto e o Vae ou Racha. O Clube Carnavalesco Cravo Preto foi fundado em 1918 e nasceu de uma turma de rapazes que frenquentavam um local na Rua XV de Novembro (atual Rua Nereu Ramos), onde eram servidos cafés.

Inicialmente, o clube foi fundado no dia 6 de abril de 1919, mas antes, os rapazes comemoravam o carnaval no Clube 1º de Julho, com o nome Bloco Cravo Preto. Na antiga cafeteria, havia uma salas no fundo, onde o grupo se reunia para as festas.

A sala levava o nome de “Sala do Pelego Sagrado”. A sede do clube foi, posteriormente, construída na praça central. Neste clube, de acordo com a pesquisa de Lenilson, eram proibidos o consumo de bebidas alcoólicas e fumo.

O Clube Carnavalesco Vae ou Racha é datado de 1920. Por dissidências do Clube 1º de Julho, algumas figuras ilustres faziam parte da diretoria, como Aristiliano Ramos, Otacílio Vieira da Costa e Mário Grant.

O primeiro grande carnaval de Lages ocorreu no ano de 1912 e as apresentações eram no Largo da Catedral. Além das fantasias, vários carros alegóricos fizeram história naqueles dias. Esse foi o maior carnaval da época, e praticamente toda a cidade participou. O próximo grande carnaval demorou 17 anos para voltar a acontecer.

Em 1930, o Clube 1º de Julho realizou uma grande festa – voltada para a elite lageana. A partir da década de 1940, outros clubes surgiram na cidade, movimentando ainda mais os dias de carnaval.

Em edições antigas do Correio Lageano, os jornalistas da época relataram as grandes festanças naqueles estabelecimentos. Praticamente, todas as festas eram visitadas e descritas nas edições semanais do jornal.

O rei Momo, personagem que comanda as festas de carnaval, era destaque nas notícias. Em um dos parágrafos publicados, dizia “Começa hoje, com grande entusiasmo e extraordinária animação, o reinado de Momo, o soberano da alegria, que todos os anos estabelece uma trégua de três dias, para que o povo descarregue as tristezas da vida” (Correio Lageano, 7/02/1948). Também eram escolhidas as rainhas dos bailes, que tinham suas fotos publicadas nas páginas dos jornais.

Para as festas, eram criadas histórias que animavam as imaginações dos participantes. Como por exemplo, em 1948, no reinado de Evalda Montenegro, no Clube 1º de Julho, o jornal destacou que “A linda princesa Oriental, prisioneira no Palácio do Rei Amir é libertada pelo astuto Ali Babá e seus 40 ladrões, e entregue ao Rei Momo, onde sua majestade imperará nas festas carnavalescas do veterano 1º de Julho”.

Com a chegada destes clubes, o carnaval de rua foi ganhando menos prestígio. Em maio de 1888, surgiu também em Lages, o Clube Cruz e Sousa, que reunia a comunidade afro-descendente, proibida de entrar nos clubes tradicionais.

Por isso, com sua própria sede, que em 2018 comemorou seu centenário, as festas de carnaval saíram da rua e ganharam seu espaço próprio. Os carnavais no clube eram embalados pelo som da bateria da escola Unidos do “Rítmo” Castro Alves – escola que surgiu dentro do Centro Cívico. Por causa da dedicação pelas fantasias, o desfile da URCA, era um dos mais esperados na avenida.

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Do auge à falta de recursos

Apesar de ter se tornado uma festa tradicional, o carnaval em Lages foi ficando cada vez menos prestigiado. A cada ano ficava mais difícil a realização da festa dos grandes desfiles que aconteciam na rua. A falta de investimento local é uma das razões para isso.

Muitos blocos carnavalescos realizaram seus carnavais com recursos da Prefeitura Municipal ou privados. A Liga das Escolas de Samba ainda é atuante e, todos os anos, busca recursos para que o carnaval de rua volte a acontecer. Para 2019, está vendendo a rifa de um carro e apresentou uma proposta para a Fundação Cultural, que ainda deverá ser discutida.

Na foto principal: Barracão da Sociedade Carnavalesca Cravo Preto. Carro Cobra Jibóia, segundo informações da época o carro tinha movimentos que simulava a cobra engolindo um boneco com as cores da Sociedade Carnavalesca rival, a Vae ou Racha. A Sociedade Carnavalesca Recreativa Cravo Preto foi fundada em 1919, a sede era na antiga Loja Maçônica Luz Serrana, na Praça Municipal, hoje, Praça João Costa.

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