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Tudo ligado a Mandela vira ímã de torcedores durante Copa

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Johanesburgo, 24/06/2010, (EFE)

A estátua de duas toneladas e meia de Nelson Mandela, em frente ao centro comercial de Sandton, em Johanesburgo, o Museu do Apartheid e o antigo gueto negro de Soweto se transformaram com a Copa em um concorrido cenário para as fotografias que os torcedores tiram de lembrança entre as partidas.

 

"Honduras, Honduras!", um grupo de hondurenhos canta e pula em frente a uma câmera de televisão argentina, aos pés do monumento ao herói, na Nelson Mandela Square. A um metro e meio outro grupo grita "México, México, México!", vestidos a caráter com os uniformes e bandeiras de sua seleção.

 

"Foram 27 anos na prisão para acabar assim", diz, irônico, Bernard, ex-engenheiro de 70 anos, agora taxista extra-oficial, enquanto olha a estátua inaugurada em 2004, semiencoberta por uma propaganda da Copa da Sony e ao lado do Shopping Center do bairro que concentra hotéis de luxo e o centro nervoso da Fifa.

 

Para Bernard, branco, o que acontece na Mandela Square não é nem melhor nem pior que as procissões de torcedores que, às vezes sem sequer largar a bandeira ou a vuvuzela, vão ao Museu do Apartheid, afastado do centro da cidade e no caminho para Soweto.

 

"Um dia os levamos ao 'shopping', no outro ao Museu, no terceiro ao gueto. Tudo o que leva o sobrenome Mandela é um ímã turístico. Pobre, se soubesse… Mas é bom homem, certo que fica contente por nós", prossegue o taxista ocasional.

 

As casas de luxo dos negros ricos de Soweto, o gueto criado em 1904 a cerca de 20 quilômetros de Johanesburgo, quando as autoridades retiraram à população negra da capital, é o ponto de partida do percurso pelo distrito que hoje tem quase 4 milhões de habitantes, tão negros como os de então.

 

"É um 'apartheid' ao contrário. Eu, embora quisesse, não poderia viver aqui. Primeiro, porque sou branco; segundo porque não tenho dinheiro suficiente para pagar uma casa assim, com piscina", lamenta outro taxista ocasional, Marc, 50 anos e desempregado, que jura não ser racista, mas fala como se fosse.

 

As casas com piscina dos negros ricos são a cara elitista da moeda de Soweto. A outra são os barracos sem água, nem eletricidade, que lembram as favelas de Buenos Aires e mesmo as de São Paulo. No local qualquer um se dispõe a ser guia e, inclusive, a levar o visitante ao interior de uma das casas onde vivem diversas famílias.

 

"No seu país há lugares assim?", pergunta "B" – como faz questão de ser chamado -, ao visitante. Ele também ensina o que pode e não pode ser fotografado e para quem deixar uma gorjeta para evitar a avalanche de crianças correndo ao redor.

 

Dezenas de turistas entram na vila ilegal de Soweto e nas áreas ricas que, junto à vila de luxo de Winnie Mandela e a casa-museu do ex-presidente, são parada obrigatória dos visitantes.

 

Em frente à residência de Mandela um casal zulu dança para os visitantes que chegam em ônibus, seja para percorrer a antiga casa ou para comer no restaurante vizinho, também apelidado de Mandela.

 

"Pobre 'Madiba', esta não é a sua Copa", diz Muriel, habitante da vila-miséria sul-africana. Madiba é como Mandela é chamado carinhosamente por todos os sul-africanos, brancos e negros.
"Nunca foi, porque, como toda Copa, esta pertence à Fifa. Mas garanto que ficou contente por todos nós", repete Bernard, que acabou virando nosso taxista oficial.

 

"Ele está muito velho, qualquer dia se vai, ainda mais com o golpe da morte de sua bisneta", prossegue, enquanto mostra o lugar onde o automóvel em que Zenani Mandela, de 13 anos, bateu após o show de abertura da Copa, em Soweto.

 

"O que Mandela fez para merecer isto?", diz o taxista, que ainda acredita que Madiba irá assistir a partida final, no dia 11 de julho no Soccer City, o maior estádio da África do Sul, com 88 mil lugares, às portas de Soweto.


Foto: (EFE)

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