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Saúde mental depois da terceira idade

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Imagens: Agnes Samantha

Segundos dados do IBGE a população de idosos está crescendo muito. A expectativa é que a média de vida passe a ser de 81 anos. Com isso vem a importância de falar sobre a saúde mental dos idosos. Assunto negligenciado por anos, por ser um tabu, assim como os transtornos mentais.

Os transtornos mais comuns entre a população idosa, é a depressão, ansiedade, demência, distúrbio do sono e a dependência química. A última trata-se de um assunto camuflado pela maioria das pessoas, por vergonha. Em grande parte dos casos em que são diagnosticados esses transtornos, são os familiares que percebem algo de diferente no comportamento do idoso e os conduzem até um médico. Alguns dos sintomas aliados aos transtornos são a mudança dos hábitos diários, como a higiene pessoal e o afastamento dos próprios filhos e netos.

Segundo a Psicoterapeuta, Mestre em Saúde Mental do Idoso, Inês Gullich as dores sentidas por muitos idosos pode ser uma somatização. “Muitas vezes essas dores são resultado de problemas mentais”, comenta. Muitos ficam confusos, irritados, chateados, outros escutam vozes e podem ter alucinações visuais.

Foto: Divulgação

A dependência química, como o álcool, também é uma das mudanças que pode ocorrer. Pode ocorrer em uma tentativa uma tentativa de esquecer a solidão e as mudanças sofridas com a chegada da terceira idade, como a aposentadoria e a dependência financeira. A solução por sua vez, pode ser simples, se a pessoa for levada logo no início do transtorno para um tratamento clínico.

Um dos problemas encontrados pelos profissionais é o preconceito vindo com a área da psiquiatria e psicologia. Por isso, a importância de os familiares estares atentos a mudanças e driblares a resistência.  “O principal é conseguir levar o paciente até a consulta. Lá o médico se encarrega de explicar e ganhar a confiança do paciente”.

Fatores de risco, que podem desencadear esses transtornos em sua maioria são as perdas das funções sociais, como o trabalho, perda de autonomia, doenças físicas e a morte de um ente querido. Algumas das alternativas citadas pela psicoterapeuta como proteção à saúde é a atividade social, como grupos dos idosos, dança e jogos.

“Por isso dá importância de manter-se ativo, quem sabe até procurar uma nova profissão, estudar e buscar trabalho voluntário”. A família tem papel fundamental no tratamento. Além de realizar atividades em família, dar atenção e até mesmo pedir ajuda de vem em quando. “Ajudar a cuidar dos netos de vez em quando também pode motivar. Mas sem sobrecargas”.

A procura pela ajuda médica no início é muito importante e pode minimizar a demência. Isso pode acontecer desde a fase adulta. Para o jovem adulto chegar na velhice com a mentalidade saudável, ele deve ter uma vida social ativa, praticar atividade física, não fumar, beber sociavelmente ou não beber, cuidar da alimentação, fazer trabalho voluntário, dormir bem e ter habilidade para enfrentar os problemas da vida, sem postergar.

“Uma saúde metal boa é prognóstico para a qualidade da saúde física” comenta Inês Gullich, que em seu estudo de mestrado levantou dados que mostravam que uma pessoa com boa saúde mental tinha mais de 50% de cura depois da descoberta de um câncer, do que alguém com depressão, por exemplo.

Solange* de 61 anos, passou ressentimento por um ataque de pânico que a fez procurar ajuda. Em tratamento a algum tempo em outra cidade, não sentiu confiança no medicamento indicado pelo profissional. Em agosto, estava com uma viagem marcada com a filha e na hora do embarque desistiu. Depois deste episódio por incentivo da filha, procurou ajuda com outra profissional. Hoje, ela pode dizer que está bem. Há três meses que não se sentia feliz, não ria, não praticava hobbys, não tinha vontade de trabalhar e nem de se cuidar.

“Eu tinha deixado de lado até minha família, meus filhos e netos” conta ela, que ainda aconselha “quando você começa a se sentir diferente, triste, já deve procurar ajudar”.

*A entrevistada não quis se identificar, nome fictício

A vida em sua melhor fase

Repousar, rir com os amigos, ter tempo para a família e para o lazer. É assim que deveria ser visto a chegada a terceira idade. Para Lucilene Soares, os seus 71 anos chegaram assim. Há cerca de quatro anos ela é frequentadora assídua das tardes de jogos da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Lages. Ali no local, ela fez muitos amigos, assim como Maria Angelina Branco, de 67 anos, que compartilha a mesma mesa de cartas.

Para Lucilene que sempre trabalhou, os jogos são mais do que entretenimento, é uma forma de convivência com outras pessoas, de ocupar o tempo e não pensar em coisas ruins. Ela vai pelo menos duas vezes na semana ao local, em alguns dias o marido a acompanha, “mas ele gosta mesmo é dos bailes”, diz ela, se referindo ao baile promovido pela associação duas vezes no mês. Sua amiga, Maria Angelina, ainda comenta sobre as outras atividades que pratica, oferecidas pela associação, fisioterapia e hidroterapia. Os jogos, que ajudam a manter ativa a memória, fazem parte da rotina de muitos aposentados.

Maria Lúcia, responsável por cuidar do local e do cafezinho tão aguardado, tem pouco tempo de casa, mas em alguns meses já observou como os idosos estão sempre muito concentrados nos jogos, fazendo novas amizades e esquecendo dos problemas que os cercam do portão para fora da associação. “Quando algum deles falta, já sentimos falta, ficamos preocupados” diz.

Seu Armindo João Araldi tem 87 anos, e há anos está presente na associação, atualmente em sua reeleição na presidência. Comenta sobre a importância de se manter ativo, de praticar os jogos, os esportes e os trabalhos manuais. “Já perdemos alguns companheiros. E outros chegaram. Somos uma grande família”.

Maria* 67 anos, frequenta o local há 7 anos, todos os dias, de segunda à sábado. Mora em um local próximo, com a filha, e passa suas tardes na associação, jogando, conversando e tomando café. Viúva, sempre recebeu incentivo dos filhos para ir ao local e ampliar o ciclo de amizades.

*Nome fictício

Fredolino Vieira Shimitti, 67 anos, Gildo Pereira Ramos, 68 anos, Eraclides Belato, 83 anos e Cassimiro de Jesus, 63 anos tem uma mesa reservada, geralmente de segunda a sexta os amigos se reúnem para uma rodada de canastra. Alguns deles frequenta o local há cerca de 4 anos outros um pouco menos, mas as amizades foram se formando.

Além do bem-estar, seu Gildo comenta sobre o cuidado com a saúde. “Eu vou no posto de saúde regularmente fazer exames” conta ela que há três anos mora sozinho. Seu Cassimiro sempre gostou e continua fazendo caminhadas diárias. Assim como Lucilene, eles também gostam de frequentar os bailes promovidos pela associação.

Seu Antonio Alves, é conhecido por todos, o aposentado, frequenta o local há cinco anos, todos os dias. Como mora apenas com a irmã, sobra tempo para o papo com os amigos e claro, para o cafezinho.

Confira o vídeo:

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