Lages está entre as cidades que colocam Santa Catarina no mapa da ciência mundial. O motivo é surpreendente: o estado abriga nove das 12 pessoas oficialmente registradas no Brasil com sangue Vel-negativo, um dos tipos mais raros do planeta. Essa condição genética transforma cada doador identificado em um elo vital numa cadeia que pode salvar vidas, e em uma raridade que intriga cientistas.
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O sangue Vel e sua raridade genética

A maioria das pessoas conhece apenas os grupos sanguíneos A, B, AB e O, com fator Rh positivo ou negativo. Mas a ciência já identificou dezenas de sistemas diferentes e centenas de antígenos nas hemácias.
Entre eles está o Vel, um antígeno presente na superfície das células vermelhas do sangue. A hematologista Dra. Daniela Nos explica que “quem possui o antígeno é Vel-positivo; quem não o tem é Vel-negativo, uma condição extremamente incomum no mundo”.
Lages no mapa da solidariedade científica

O estudo que revelou essa concentração foi conduzido pelo Hemosc, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foram analisadas mais de 17 mil amostras de sangue em todo o estado, e nove casos Vel-negativo foram identificados, alguns deles em cidades do Planalto Serrano.
Segundo a bioquímica Danielle Siegel, coordenadora do projeto Vel no Hemosc, “o fenótipo Vel-negativo tende a ser mais frequente em populações com origem europeia. Por isso, o Sul do país é estratégico para localizar e registrar esses doadores raros”.
Um risco invisível nas transfusões

Ter sangue Vel-negativo não afeta a rotina de quem o possui. O problema aparece apenas em transfusões.
“Se um paciente Vel-negativo recebe sangue comum, o corpo reconhece o antígeno Vel como algo estranho e produz anticorpos anti-Vel”, alerta Daniela Nos.
Esses anticorpos podem causar reações hemolíticas graves e até fatais em futuras transfusões, um risco que reforça a importância do cadastro nacional de doadores raros.
O gene que explica o mistério

A condição é herdada geneticamente e está ligada ao gene SMIM1, responsável pela produção do antígeno Vel. A mutação é recessiva, ou seja, a pessoa precisa receber o gene alterado tanto do pai quanto da mãe.
“É uma característica que pode passar despercebida por gerações, até ser revelada em um exame específico”, explica a hematologista.
Santa Catarina lidera pesquisas sobre sangue raro

O Hemosc tem se tornado referência nacional na identificação de fenótipos sanguíneos raros. Em 2023, uma bolsa de sangue Vel-negativo coletada no estado foi enviada para Recife, ajudando um paciente com anemia falciforme e doença renal crônica a passar por cirurgia de urgência.
Danielle Siegel reforça: “Cada doador descoberto é uma chance de salvar alguém. Isso mostra o quanto a rede catarinense é eficiente em transformar ciência em solidariedade”.
Como isso impacta sua vida?
Saber que há doadores raros em cidades como Lages mostra o quanto a solidariedade catarinense é essencial para o sistema de saúde.
Mesmo quem não tem um tipo de sangue raro pode fazer parte dessa rede: cada doação ajuda a manter o banco de sangue abastecido e garante que, quando a raridade se tornar uma urgência, a vida tenha prioridade.
No fim, a ciência avança porque a solidariedade corre nas veias.
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que realmente importa pra nossa cidade.