Algumas pessoas poderiam se igualar aos Coalas, que dormem cerca de 20 horas por dia.
Falar assim, parece engraçado, mas não é. Cansaço, estresse, desânimo, são sintomas muito parecidos com a depressão, mas que podem ser indícios da apneia do sono.
O distúrbio é uma evolução do ronco, aquele som tratado, muitas vezes, com ironia e em tom de brincadeira. Ele é um aviso que a pessoa está se ‘autoestrangulando’ e sem tratamento pode resultar em várias doenças.
Quando a pessoa ronca, começa a fechar a faringe. Com o passar os anos, a evolução causa um fechamento total e a pessoa ronca mais. Primeiro começa a incomodar quem está dormindo junto, depois, quem está no quarto ao lado, e aí já está no estágio da apneia do sono.
A doença é uma parada respiratória de no mínimo 10 segundos e tem três estágios: leve, de 5 a 15 paradas respiratórias por hora; moderada, de 15 a 30; e grave, acima de 30 paradas por hora.
Por isso, a pessoa com esse problema está sempre cansada, precisando dormir mais e mais horas por dia e dar aquela cochilada. Mesmo que sem querer!
A aposentada Gilsinéia Marian, 49 anos, sabe como é sofrer com esse problema. Há cerca de três anos, percebeu problemas no sono, acordava com sonolência e fadiga. Os sintomas eram muito semelhantes ao da depressão, então, iniciou uma terapia. Com o passar do tempo, também começou a se consultar com um psiquiatra, e foi ele quem a encaminhou ao otorrinolaringologista para realizar o exame que constatou que ela sofria, também de apneia no estágio grave.
Nesse meio tempo, a dose de remédios já havia aumentado muito e Gilsinéia se via dormindo involuntariamente em vários lugares.
“Muitas pessoas com sintomas de depressão dormem mal, não apenas pela doença, mas por terem a apneia. Se o especialista está tratando um paciente que tem depressão e ronca, deve tratar o ronco também,” alerta o otorrinolaringologista Fernando Arruda.
O sono é dividido em quatro fases, do 1 ao sono Rem (sono reparador, que deve ser de 20% a 25% do total das horas dormidas). Se a pessoa acorda cansada é porque grande parte do tempo ficou entre as fases 1 e 3 devido à apneia do sono, que tranca as vias respiratórias, baixa o oxigênio do cérebro e deixa a pessoa em sono superficial.
Sendo assim, a avaliação de um sono de qualidade não se deve às horas dormidas. Mesmo que a pessoa durma por 12 horas, se ela tiver menos de 20% de sono Rem (profundo) acordará cansada.
Além do cansaço, pessoas com apneia têm maior índice de infarto, derrame e diabetes, por exemplo.
Para constatar se está dormindo bem, a pessoa pode ficar atenta aos primeiros sintomas de apneia leve como sonolência diurna, alteração do humor, da concentração e da libido. E, claro, se tiver uma pessoa que a alerte sobre o ronco.
Ronco e apneia do sono são problemas em qualquer idade
As pessoas roncam por vários fatores, pela flacidez, gordura na garganta, fator genético, questão hormonal, ou mesmo pela idade. A tendência do ser humano é roncar com a idade, os homens, geralmente, a partir dos 40 anos e a mulher a partir dos 50 anos (ou após a menopausa). E, sem tratamento adequado, esse ronco chegará na apneia e ocasionará outras doenças.
Segundo Fernando Arruda, existem jovens roncadores e esses devem tratar o ronco assim que ele se inicia, porque as doenças vão aparecer mais cedo.
“São grandes as chances de uma pessoa que começa a roncar aos 20 anos ter um infarto aos 40 anos ou se tornar hipertensa,” explica o médico.
No caso das crianças, o sono é fundamental para o crescimento e aprendizagem. E, geralmente, elas roncam por problemas de adenoide e amígdala. As que começam a roncar com 3 ou 4 anos dormem, mal e acordam agitadas. Assim, muitas delas recebem o diagnóstico de hiperatividade.
“As pessoas precisam ficar alertas, pois não existe ronco bom. Ele ocasiona muitas doenças, então, se a pessoa está com algum problema e ronca, é importante achar a causa.”

O tratamento
Após o diagnóstico de apneia grave, Gilsinéia passou por uma cirurgia de desvio de septo. Em agosto deste ano, fez um experimento com o aparelho de avanço mandibular CPAP. Quando despertou, depois de seis horas de sono, seu sentimento era de “paz”.
“Não havia cansaço, não senti sono. Dormi menos e acordei melhor,” comenta.
A partir de agora, o CPAD será sua companheira nas noites de sono. Mas a fonoaudióloga Juliana Brasil Zingalli, que está acompanhando o tratamento, adverte, “muitas pessoas a comprar essa máquina na internet, mas é de suma importância ressaltar que é necessário ter um profissional acompanhando o tratamento. Passar por um médico, ter os dados corretos para regular a máquina e acompanhar os relatórios. Acabando assim, totalmente, com o ronco”.
A partir de agora, Gilsinéia espera entrar em uma nova fase, com qualidade de vida.
E isso, o Doutor Fernando ressalta, quem tem apneia sofre também com a obesidade, por causa do Cortisol, hormônio que age no rim, retém liquido e dificulta o emagrecimento. E sem a perda de peso não tem melhora no ronco.
“Com o aparelho, não haverá mais apneia, aumentará a oxigenação noturna e, assim, também, a perda de peso, porque o metabolismo volta a funcionar. Tendo a qualidade de vida tão almejada e essencial”.

Os profissionais reconhecidos pela medicina do sono para tratamento de apneia são otorrinolaringologistas e pneumologista.