AMARILIS
Em 30 anos de relacionamento, Amarilis perdeu as contas de quantas vezes foi agredida pelo marido. As agressões físicas que mais provocaram machucados emocionais foram as sofridas durante as seis gestações. Na primeira, logo no início do relacionamento, ela sofreu um aborto depois de uma discussão com o marido que, à época, era apenas seu namorado. “Em todas as gestações fui agredida. Não escapei uma gravidez ilesa, nunca pude ficar calma e serena pra receber meu bebê.”
Além dos tapas e socos, as agressões psicológicas eram constantes. O marido atacava o emocional e menosprezava Amarilis dizendo que ela não era uma boa mulher, nem uma boa mãe, tampouco uma boa cristã.
O ciúme descomedido e desnecessário, causa de quase todas as brigas do casal, revelou-se logo nos primeiros meses de relacionamento. Ainda durante o namoro, Amarilis levou um tapa no rosto, enquanto estavam em uma festa. O motivo? Ciúmes. “Quando a gente começou a namorar ele demonstrou que era muito ciumento, mas eu era novinha e não tinha a visão que tenho agora. Então, não entendia que era errado.”
O comportamento do marido, que além de ciumento era usuário de drogas, por muitos anos, privou-a de várias coisas: ela não trabalhava fora de casa, não tinha grupos de amigos, nunca estudou. Há alguns anos, começou a fazer trabalho voluntário na igreja que o casal frequenta. Foram dois meses de atividades que ela descreve como “um verdadeiro inferno”. “Ele tinha tanto ciúme dos meninos que também faziam trabalho voluntário, que um dia arrancou o celular da minha mão porque achava que eu estava tendo conversas inadequadas com alguém. Me deixou roxa.” Ao longo dos anos e em diferentes situações, foram pelo menos quatro celulares quebrados pelo mesmo motivo.
O constante menosprezo e as agressões, além de outros problemas familiares, levaram Amarilis a um profundo quadro de depressão.Ela, inclusive, tentou suicídio. Acreditava ser a única alternativa para acabar com o sofrimento. Há alguns anos começou um acompanhamento com uma psicóloga e, com isso, acredita que está aprendendo que não é culpada pelas agressões que sofre.
“Em 2018, foi a primeira vez, em toda a nossa história, que ele admitiu que tem parte de responsabilidade na nossa relação. Antes, a culpa das discussões e agressões sempre recaíam nas minhas costas. Eu aprendi que tenho responsabilidades, mas eu não sou culpada como ele e outras pessoas tanto dizem. Ainda tô aprendendo a me dar valor e reconhecer o que tenho de bom.”
Muito religiosa e temente a Deus, Amarilis ainda não se separou de vez porque acredita na manutenção da família, especialmente depois que o marido começou a reconhecer que também é responsável pelos problemas do casal. “Ainda tô numa eterna busca pela cura do meu casamento. Não perdi as esperanças.”
AZALÉIA
A separação de Azaléia é recente e muito dolorida, porque as marcas desse processo estão por todos os lados. Foi exposta pelo ex-companheiro nas redes sociais e por conta de mensagens falsas perdeu o emprego. Mesmo com a medida protetiva, não conseguiu ficar segura, porque o agressor usou de outros meios para atingi-la. Foram diversos perfis falsos atribuídos a ela. “Eu sou a vítima e tenho que lutar para provar que sou a vítima, porque está tudo conspirando contra.”
Falar disso dói tanto, que quase não consegue verbalizar e as lágrimas rolam pelo rosto.
Ela teve de sair de casa com o filho e somente com algumas roupas. Auxiliada pelas profissionais da Secretaria Municipal de Políticas para Mulher de Lages, voltou para buscar seus pertences, inclusive, seus documentos. Os 10 anos de relacionamento, foram de humilhação e opressão, teve agressão verbal e física, que tem dificuldade em contar, porque ainda ferem sua alma.
A decepção foi aumentando porque, desempregado, o ex-marido não buscava uma colocação, só ficava em casa assistindo televisão e não cuidava da casa. Era ela quem tinha de dar conta dos trabalhos domésticos, mesmo trabalhando o dia todo.
Azaléia não consegue vislumbrar um futuro, ainda está na fase de sofrimento, e sente dificuldade em pensar de forma positiva. O que tem certeza é que não quer retomar o relacionamento com o ex-companheiro.