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#CLentrevista a arquiteta e professora Lilian Fabre

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Em entrevista exclusiva ao #CLentrevista, a arquiteta, professora universitária e mestre em preservação do patrimônio cultural Lilian Fabre fala sobre a valorização dos patrimônios em Lages.

Correio Lageano: Nos últimos anos, Lages tem discutido a questão do patrimônio, teve a demolição do prédio do antigo Colégio Aristiliano Ramos, a possibilidade de tombamento do Edifício Dr. Accácio, a restauração do Casarão Juca Antunes e a possibilidade de retirada do monumento em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas. Isso demonstra que a cidade está se preocupando mais em preservar o patrimônio?

Lilian Fabre: Infelizmente, é o contrário. Está havendo a discussão justamente pela falta de preservação e, de certa forma, descaso do poder público com o patrimônio. Acaba que tem uma movimentação das universidades, da população, para realmente pedir que isso seja preservado ou pelo menos, que seja discutido de um modo mais amplo. Foi definida a demolição de uma escola que era importante para a história de muitos lageanos, sem discussão com a comunidade. O Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Compac) tombou um edifício e pode ser que seja destombado. É bom que haja uma discussão, mas infelizmente o que motivou essa discussão é negativo.

Por que alguns espaços são mais preservados que outros? A Catedral e o Colégio Rosa, hoje Centro Cultural Vidal Ramos, são bastante preservados, de outro modo, o monumento em homenagem a Getúlio Vargas e outros espaços, ficam abandonados. Por que isso acontece?

Geralmente, a valorização tem a ver com o quanto (o espaço) foi importante para a história oficial. A Catedral é monumental, tem uma arquitetura que aparece mais, tem uma feição mais antiga, então, é mais fácil para as pessoas identificarem que aquilo é patrimônio. Já a Art Decó, que temos muito no Centro Histórico, as pessoas acham que é velho, não acham que é antigo. O que é da história popular, as coisas mais singelas não são valorizadas como esses monumentos.

Um patrimônio precisa ser tombado para ser preservado?

Não necessariamente. O tombamento é uma lei de proteção, é a melhor forma, a mais segura. Tombou, está preservado, porque os proprietários e o poder público têm legalmente a obrigação de preservar e valorizar o edifício. Mas tem outras formas, inventário, acautelamento pela própria comunidade. Uma coisa é o que a gente reconhece como nosso patrimônio lageano, outra coisa é o que está tombado em lei. Mas o tombamento é a forma mais segura.

Os lageanos conseguem observar os patrimônios tombados ou não? Estão preservando, não só o poder público, mas a população?

Acho que ainda não, falta muita conscientização da população sobre a questão do patrimônio. A educação patrimonial é as pessoas valorizarem e verem o quanto o nosso Centro Histórico é rico e comecem a dar valor, vender essa ideia, até por uma questão turística. A gente tem um longo caminho pela frente. E, realmente, não adianta só esperar pelo poder público.

Quando falamos em patrimônio em Lages, ainda discutimos o patrimônio material, as construções, mas há também o patrimônio imaterial, que em diversos lugares do país é preservado. Os patrimônios imateriais referem-se ao saber fazer e à cultura de um povo. Explica um pouco o que é patrimônio imaterial?

O (patrimônio) material é isso, é a edificação, a construção, um acervo de arte sacra que a gente pode colocar em um museu. O patrimônio imaterial é algo intangível que tem a ver com a cultura local, ao saber fazer, como o queijo serrano, o ofício de um vaqueiro, ou o ofício do taipeiro. São coisas que vão se perdendo ao longo de tempo que, às vezes, as novas gerações não têm interesse. Quem ainda faz taipa, por exemplo, em Lages daquela forma que se fazia desde o período colonial. Infelizmente, a gente ainda não tem esse tipo de preservação, e isso também é um patrimônio que está em risco.