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Centenárias vivem no asilo

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Santalina se comunicava com o aparelho de TV por gestos - Fotos: Camila Paes

Dona Dora, que daqui a menos de um mês completará 105 anos de vida, levanta quase sem dificuldade do sofá do Asilo Vicentino, em Lages, e em passos lentos chega até mim. Estende as mãos pequenas e me cumprimenta. Não consigo deixar de notar os anéis, pulseiras e brincos que enfeitam a senhora, que é uma das três centenárias presentes na instituição.

Além de Dora, que na verdade chama-se Doralice Correia de Oliveira, dona Santalina Souza completou 105 anos em março e, mais impressionante ainda, é a dona Olívia, que há cerca de duas semanas, completou 109 anos. Das três, Dora é a que se move melhor, não precisa de cadeira de rodas, ainda conversa e entende o que falamos, mesmo com as dificuldades da idade.

Foi com a voz fraquinha que me contou que tem os anéis que carrega nos dedos há muitos anos. Ficou feliz ao me ver, como se me conhecesse há tempos. Segurou na minha mão e não soltou mais. Junto à assistente social Rochele Gewehr, levamos dona Dora para o refeitório, onde, às 11h, é servido o almoço. “A gente não pode perder o horário, porque eles ficam agitados quando estão com fome”, afirma Rochele.

Dona Santalina e Olivia têm certa dificuldade para se locomover. Elas usam cadeiras de rodas e são as colegas também moradoras do asilo que se voluntariam para empurrar as amigas pelos corredores da instituição.

Quando cheguei ao asilo, na manhã de sexta-feira (03), as três estavam na sala de televisão. Santalina interagia com o aparelho por meio de gestos. Esta é a forma que a senhora se comunica também com os funcionários do asilo, além de abrir um largo sorriso quando gosta de alguém.

Pedi permissão para fazer uma foto de Santalina e assim que apontei a câmera fotográfica, ela sorriu. Mostrei o resultado da foto para a senhora, que cutucava a tela da câmera ao se identificar na imagem.

Dona Olivia não se comunica muito e tem uma expressão muito séria. Aos 109 anos, aceitou posar para uma foto. Parece que a senhora gostou do resultado do retrato, já que esboçou um sorriso ao se ver na tela da câmera. Troca algumas palavras com os cuidadores do asilo e acenos com a cabeça. Mas quando perguntam seu nome, logo responde: “Meu nome é Olivia”.

Ao posar para a foto, Olívia abriu um sorriso

No ano passado, o asilo abrigava cinco centenárias, mas duas faleceram. Nos últimos exames médicos, que são realizados a cada seis meses, as três senhoras se mostraram em boas condições de saúde, apesar da idade avançada.

Como faz bastante tempo que moram no asilo, a instituição não tem muitas informações sobre a chegada das idosas e sobre o passado de cada uma. A assistente social Rochele explica que isso acontece porque o sistema de cadastramento dos moradores era diferenciado no passado e não se anotavam muitas informações.

O que se sabe é que Dona Dora nasceu no dia 1º de setembro de 1913 e morava no município de Vargem. Sabe-se, também, que Olivia nasceu no dia 25 de julho de 1909 e Santalina em 11 de março de 1913, mas não há registro de onde vieram.

Para se ter uma ideia, na década em que as senhoras nasceram, a Catedral Diocesana de Lages ainda não havia sido finalizada, o Colégio Rosa havia sido recém-inaugurado por Vidal Ramos e as mulheres ainda não podiam votar no Brasil.

Dora é a que se locomove melhor

Rochele explica que todos os moradores seguem uma rotina, mas são livres para definir suas atividades. Alguns ainda estão lúcidos e para se sentirem úteis, gostam de auxiliar na rotina, como secar a louça e até mesmo, varrer o chão.

Tudo é feito, claro, conforme a vontade e, se não querem, não há obrigação. São mais de 80 moradores no asilo e, com isso, o trabalho dos profissionais é bastante corrido. Por isso, é importante o trabalho voluntário na instituição. “Por mais que tratemos os moradores com muito carinho e amor, nada substitui o carinho de uma família. Eles precisam de pessoas para conversar, quem possa ouvi-los”, ressalta ela.