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A vitória do Peru é um alento à sua torcida, que esperou para soltar o grito por quase quatro décadas

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Foto: Fifa/ Getty Images/ Divulgação

A partida entre Austrália e Peru poderia muito bem apresentar um clima de melancolia, com ambas as seleções voltando para casa depois de três partidas. Certamente, este sentimento esteve presente.

A Austrália provocou mais do que se esperava e incomodou os favoritos, tendo em Aaron Mooy e no capitão Mile Jedinak os pilares para um bom meio de campo da equipe da Oceania durante o mundial. Já o Peru sai bastante frustrado, porque havia alimentado o sonho da classificação, que deixou escapar nas duas primeiras partidas.

Ao menos, o resultado de 2 a 0 para os peruanos, no Fisht Stadium, em Sochi, é um alento proporcionado em grande parte por Paolo Guerrero a uma torcida que merecia uma vitória no retorno à Copa depois de 36 anos.

Os times

Ambas as equipes escalaram o que costumaram nas partidas anteriores. As mudanças ficavam ao sistema defensivo de Ricardo Gareca, onde entraram Anderson Santamaría e Christian Ramos, dando outra capacidade à contenção contra a bola aérea australiana.

Ademais, a presença de Paolo Guerrero desde o começo representava um aumento de potencial ofensivo, como forma de catalizar os velozes Edison Flores e André Carrillo, amparados pelas subidas dos laterais Miguel Trauco e Luis Advícula, sabidamente capazes ofensivamente.

A seleção da Oceania depositava suas fichas na experiência de Mile Jedinak e na criatividade de Aaron Mooy, sustentando a velocidade de Leckie e Kruse pelas pontas, com Rogic armando.

O campinho de Austrália x Peru (Fifa.com)

O jogo

Com chances bastante remotas de classificação, foi natural que a Austrália buscasse a pressão inicial. Com mais posse de bola, trocava passes sem conseguir entrar na marcação bem organizada por Ricardo Gareca, e, assim, pouco assustava o arqueiro Gallese.

A seleção sul-americana, então, começou a partir para o jogo a partir dos dez minutos. Apertando um pouco mais, chegou ao primeiro gol aos 18 minutos. A jogada se desenrolou pela direita, depois que Yoshimar Yotún lanço Paolo Guerrero à frente.

Um pouco adiantado, o centroavante dominou, teve paciência para esperar a chegada do ataque, e fez o cruzamento. Praticamente uma inversão: do lado oposto, André Carrillo não pensou duas vezes antes de soltar o sapato. A chicotada não deu chances a Matt Ryan.

Mesmo com o Peru desclassificado, o atacante foi um dos bons jogadores nas partidas anteriores. Foi premiado por tentar algo diferente nos extremos. Foi dele o gol que fez a torcida peruana soltar um grito preso na garganta durante décadas.

O primeiro gol dos peruanos foi a libertação de um sentimento não sentido há 36 anos. A albirroja seguia propondo o jogo, apesar do equilíbrio, quando a Austrália começou a se acertar. A melhor de suas chances foi interrompida por Gallese, que negou o tento a Tom Rogic. O camisa 23, aliás, era quem concentrava o jogo da equipe da Oceania, tentando dar amplitude pelas laterais, mas parando nos velozes laterais peruanos — em parte pela falta de técnica.

E o Peru tratou de matar o jogo logo nos primeiros minutos da segunda etapa. Ampliou o placar com a participação de jogadores que atuam em território brasileiro. Pela esquerda, Miguel Trauco, do Flamengo, e Christian Cueva, do São Paulo, trocaram passes e o camisa 8 mandou para o meio da área, com desvio. A

bola veio na direção de Paolo Guerrero. O principal artilheiro da seleção peruana, mesmo pressionado pelo marcador, conseguiu o giro e pegou de bate-pronto. Matt Ryan não alcançou e, depois que a bola encontrou as redes, o atacante do Flamengo disparou emocionado, beijando o escudo que tanto lutou para defender.

Vendo a classificação se perder, Bert Van Marwijk usou suas cartadas para tentar reagir. Mandou o ídolo Tim Cahill ao gramado para a estreia na sua quarta Copa, mas com a atribuição de prender os laterais e zagueiros do Peru atrás. Daniel Arzani, o mais jovem entre todos os participantes do mundial, também entrou, para tentar lances mais ariscos. A zaga Blanquirroja, entretanto, impedia a imposição física e as bolas aéreas, principais armas dos Socceroos.

Esses recursos pareceram ser os únicos quando o fôlego australiano terminou. Para o deleite da apaixonada torcida peruana, o time de Gareca ficou com a bola e quase alcançou o terceiro gol. Guerrero foi mais uma vez providencial como pivô, escorando para a chegada de Edison Flores, que carimbou a trave — e depois foi flagrado em impedimento. Ao som do “Olé” das arquibancadas, a torcida blanquirroja se despediu levando na memória ao menos a última aparição.

O cara da partida

Paolo Guerrero. Aproveitou para marcar o seu em uma Copa do Mundo em que precisou enfrentar muita pressão e as sanções da Fifa para jogar. Se o povo peruano colocava suas esperanças no camisa 9, mesmo que um pouco tarde ele correspondeu, dando também uma assistência para o golaço de Carrillo. Em tanto tempo de ausência no mundial, certamente estes dois momentos em que a rede adversária balançou são um capítulo extra para os Incas.

Como fica

As duas seleções se despedem do mundial. A Austrália apresentou até mais do que se esperava, impondo seu jogo físico e um tanto de dificuldade tanto à França quanto à Dinamarca. Por outro lado, o Peru se frustra porque sonhava com a classificação depois do hiato tão doído.

Pecou e se perdeu nos confrontos diretos, talvez por Gareca ter adiado demais a presença de Paolo Guerrero, de mais presença física para prender a bola na frente, um recurso útil nas primeiras partidas, que só surtiu efeito quando já não havia mais tempo.

O Peru se despede ao menos com os três pontos

Ficha técnica

Peru 2 x 0 Austrália

Local: Estádio Fisht, em Sochi
Árbitro: Sergei Karasev (RUS)
Gols: André Carrillo, 18’/1T; Paolo Guerrero, 5’/2T
Cartões amarelos: Mile Jedinak, Daniel Arzani, Tom Rogic, Mark Milligan (Austrália); Yoshimar Yotún, Paolo Hurado (Peru)
Cartões vermelhos: Nenhum

Peru
Pedro Gallese, Luis Advíncula, Christian Ramos, Anderson Santamaría, Miguel Trauco; Renato Tapia (Paolo Hurado), Yoshimar Yotún (Pedro Aquino); André Carrillo (Wilder Cartagena), Christian Cueva, Edison Flores; Paolo Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca.

Austrália
Matt Ryan, Josh Risdon, Trent Sainsbury, Mark Milligan, Aziz Behich; Matthew Leckie, Mile Jedinak, Aaron Mooy, Robbie Kruse (Daniel Arzani); Tom Rogic (Jackson Irvine); Tomi Juric (Tim Cahill). Técnico: Bert van Marwijk.

Por Luiz Henrique Zart